terça-feira, julho 31

Os Clunk em Xabregas

Na sexta-feira passada tive uma noite deveras diferente. Os Clunk foram até Xabregas, a uma antiga sociedade recreativa e clube desportivo na Rua da Manutenção, agora transformada em associação dar um concerto. Bom, na realidade foram fazer a primeira parte do concerto dos Sal y Mileto, um grupo equatoriano que se encontra em digressão pela Europa. Eu confesso que não sei quase nada sobre os Sal y Mileto, fui até lá para ver os Clunk tocar.

Foi interessante porque não havia quase ninguém, no entanto deu para conhecer as pessoas que por lá andavam, a malta por trás do balcão e da organização. Malta bem divertida e cheia de iniciativa, pessoal do movimento associativo é raro encontrar, hoje em dia há poucos a malta jovem não quer fazer nada, compra já tudo feito.

Os Clunk estiveram bem, com um ou outro prego. Curti o som dos Sal y Mileto, não sabia que nessa parte do mundo curtissem o trash metal, tamos sempre a aprender. Foi pena porque o concerto acabou muito cedo. É que apesar de eles terem tocado pouco eram já três da manhã quando apareceu a polícia a mandar toda a gente para casa. Ficaram as fotos que tirei com a minha fiel olho de peixe.

sábado, julho 28

A Pirataria Está a Financiar o Terrorismo

É o título de uma notícia no Diário de Noticias de ontem. É sugestivo e quando lemos o artigo descobrimos que são as declarações de Eduardo Simões, o Director Geral da Associação Fonográfica Portuguesa. Este simpático senhor avisa-nos para o perigo que corremos se continuarmos a comprar CD's piratas, parece que o dinheiro vai para gente muito malvada. Isto realmente é um discurso demasiado hipócrita para ser levado a sério, só pode ser piada.

Jugar al Duro

À duas semanas fui visitar a minha namorada... levei a olho de peixe atrás claro para ficar com uma outra recordação. Sim, porque andar a "jugar al duro" e emborcar quantidades astronómicas de kalimotxo acaba com qualquer um.

quinta-feira, julho 26

O Caso da Licenciatura Já é Internacional

Com a presidência portuguesa da Comissão Europeia os podres do nosso Primeiro ministro já chegaram à boca do Mundo. Foi publicado um artigo no jornal britânico The Independent sobre a polémica que rodeia o grau académico de José Sócrates, que até nem está totalmente correcto, mas que com toda a certeza vai chamar a atenção internacional para este problema doméstico que o governo tanto se esforça por varrer para debaixo do tapete.

quarta-feira, julho 25

O Casting para a Educação

Os comentários já ecoam por aí (vêr aqui, aqui e aqui), o ridículo a que o Primeiro-Ministro se submeteu na apresentação do Plano Tecnológico para a Educação foi acentuado pelo talento e sentido de oportunidade da jornalista da Sic Noticias que fez a reportagem. A peça apesar de ser politicamente correcta deixa extravasar um pouco de ironia. Então não é que as criancinhas que assistiam maravilhadas à apresentação de Sócrates e aplaudiam a sua intenção de pôr um computador em cada sala aula tinham sido contratadas numa agência e estava a receber à hora?

É caso para nos interrogarmos se há outras medidas de governo que foram aplaudidas por apoiantes contratados. Parece que hoje em dia a politica em Portugal se faz num mundo de faz de conta. Cá para mim as coisas andam neste estado porque temos uma oposição a brincar, à altura de certo líder partidário. É que enquanto estas coisas se andam a passar no país parece que a segunda maior força parlamentar nada tem a dizer.

Não deixem de prestar atenção aos últimos segundos do vídeo que vos deixo, são os melhores.

terça-feira, julho 24

Punk Cigano

Tenho de agradecer a chamada de atenção que me fizeram para um grupo, os Gogol Bordello, do qual fiquei fã imediatamente depois de vêr este videoclip. Eles praticam um estilo bastante original, fazem lembrar um pouco os No Smoking Orchestra de Emir Kusturika, mas o rótulo mais giro que encontrei para música deles foi punk cigano. Ficaram conhecidos porque a Madonna simpatizou com eles e fizeram a abertura de alguns concertos dela. Vamos ter o privilégio de os receber em Portugal para dois concertos, dia 28 de Julho no Festival Músicas do Mundo e dia 14 de Agosto no Paredes de Coura.

Adorava ir vê-los, mas já tenho como certo que não vou poder ir a Paredes de Coura este ano. Não vou ter férias nessa altura, uma péssima noticia que já me está a deixar a boca amarga.

sábado, julho 21

Intel Junta-se ao OLPC

Há tempos falei aqui do conflito que opunha a Intel ao projecto One Laptop per Child. Parecem que tudo se resolveu e todos ficaram amigos, afinal chegaram à conclusão que os produtos apresentados por cada facção são complementares, e não concorrentes. A Intel juntou-se ao esforço para conseguir um portátil por 100 dólares.

Até há quem diga que a famosa lei de Moore está em causa, e que existe a possibilidade que toda a industria se vire para um paradigma mais limpo e menos dispendioso. Quem continua de fora desta história é a Microsoft, que não consegue pôr o Windows a correr no XO. O problema é que o Windows não foi desenhado a pensar na flexibilidade, nem na economia. Já existem por aí uma série de plataformas de computação que exploram o baixo consumo energético e o baixo custo como característica base. Este é um segmento de mercado que vai crescer concerteza, e por agora a Microsoft está fora do jogo.

Better Way

One, two, one, two, three

I'm a living sunset
Lightning in my bones
Push me to the edge
But my will is stone

'Cause I believe in a better way!

Fools will be fools
And wise will be wise
But i will look this world
Straight in the eyes

I believe in a better way!
I believe in a better way!

What good is a man
Who won't take a stand
What good is a cynic
With no better plan

I believe in a better way!
I believe in a better way!

Reality is sharp
It cuts at me like a knife
Everyone i know
Is in the fight of their life

I believe in a better way!

Take your face out of your hands
And clear your eyes
You have a right to your dreams
And don't be denied

I believe in a better way!
I believe in a better way!
I believe in a better way!


Better Way, Ben Harper

quarta-feira, julho 18

Assim se faz TV em Portugal

O wrestling é um pseudo-desporto que está muito na moda neste momento entre nós. Digo pseudo-desporto porque as capacidades atléticas e as elaboradas coreografias que os gigantes americanos exibem no ringue não são de desprezar. Foram organizados vários espectáculos em Portugal e esgotaram todos.

Talvez inspirados pelo sucesso da modalidade do outro lado do atlântico houve quem decidisse aventurar-se e trazer o mesmo tipo de emoções faladas (e bailadas) em português aos telespectadores nacionais. Através do Portal Pimba podemos assistir ao combate pelo título, que foi transmitido no programa da TVI "As Tarde da Júlia" apresentado por Júlia Pinheiro. A APW (Associação Portuguesa de Wrestling) é representada por Axel, que todos já conhecemos pelas suas aventuras na canção pimba. Aconselho seriamente o visionamento deste momento imperdível de televisão, é tão mau que não dá para acreditar.

terça-feira, julho 17

A Luta Contra o Monopólio

O artista que antigamente era conhecido por Prince envolveu-se recentemente em mais uma polémica disputa com as editoras, e o seu monopólio sobre a distribuição de música. Já não é a primeira vez, há alguns anos, o artista viu-se forçado a mudar de nome para escapar ao controlo da editora Warner Brothers que detinha os direitos sobre o seu nome, a sua música, quiçá a sua alma, como o próprio disse:

The first step I have taken towards the ultimate goal of emancipation from the chains that bind me to Warner Bros. was to change my name from Prince to . Prince is the name that my Mother gave me at birth. Warner Bros. took the name, trademarked it, and used it as the main marketing tool to promote all of the music that I wrote. The company owns the name Prince and all related music marketed under Prince. I became merely a pawn used to produce more money for Warner Bros.… I was born Prince and did not want to adopt another conventional name. The only acceptable replacement for my name, and my identity, was , a symbol with no pronunciation, that is a representation of me and what my music is about. This symbol is present in my work over the years; it is a concept that has evolved from my frustration; it is who I am. It is my name.

A última novidade nesta luta foi a distribuição de Planet Earth, o mais recente álbum do artista na Grã-Bretanha em conjunto com a edição dominical do jornal Mail on Sunday. As editoras armaram confusão claro, ameaças não se fizeram esperar. Mas o certo é que as cadeias musicais estão a perder a influência que tiveram outrora. Existem métodos de distribuição novos, que não estão sob o seu controlo. O grande capital perde, mas ganham os consumidores de cultura e os melómanos.

quinta-feira, julho 12

O Paradoxo da Dupla Tributação

A União Europeia acordou a pouco tempo, e percebeu que os cidadãos portugueses andam a ser vigarizados pelo Estado. Quando compramos carros sofremos aquilo que se chama de Dupla Tributação, pagamos imposto sobre imposto. Coisa declarada ilegal tanto pela Constituição nacional como pelas regras comunitárias. Já temos mais um processo movido por Bruxelas. O mais caricato é que as regras do jogo já mudaram, a definição do imposto automóvel mudou recentemente, ou seja o processo de Bruxelas já vem fora de tempo e encaixa-se numa realidade que está no pretérito passado.

Entretanto já andam a circular emails por aí a dar instruções sobre como receber o imposto de volta, não sei como, porque ainda nem sequer se sabe no que é que isto tudo vai dar. Se calhar foi algum escritório de advogados a lançar a bola de neve, se pensarmos bem é uma boa forma de angariar clientes, que acreditando nessa remota possibilidade decidem interpor um processo ao Estado. Isto até merecia um estudo, chain mails e a exploração da credulidade das pessoas como forma de marketing. Aliás quem reenvia essas mensagens e perpetua a cadeia não é crédulo, é mesmo otário!

terça-feira, julho 10

Live Quê?

Concordo plenamente com o que diz o Planeta Pop, a RTP fez merda da grossa na transmissão do Live Earth. Um evento com um propósito com o qual simpatizo, e que a RTP conseguiu transformar num talk-show miserável.

segunda-feira, julho 9

Desperdícios & Azares

Ando com um bocado de azar, ou então não ando com atenção suficiente, mas também ando a abusar. E sem brincar, desperdiçar umas fotos não se aprende. O facto é que o que com o meu brinquedo preferido pode-se abusar muito. No fim de semana passado fui convidado por uns amigos para a festa da mini (uma forma antiquada de beber que certa cervejeira teve o bom senso de recuperar). Já meio ébrio e com a olho de peixe em riste, deu-me para as multi-exposições... O resultado foi que metade dos negativos ficaram completamente queimadinhos... Mas sairam fotografias que gosto mesmo muito, acho que não foi desperdício.

O que sim me deixou chateado no domingo passado, foi ter sido apanhado desprevenido sem pilhas. Acordei ressacado e sem destino para ir, surgiu a ideia de ir dar passeio com uma amiga até Sintra, pareceu um bom destino peguei na minha Nikon e num rolo e lá fui. Chegados lá fomos direitinhos à Quinta de Regaleira (que eu adorei, pode ser que escreva um artigo completo sobre isso algures no futuro). O pior foi quando meti o rolo na máquina e as pilhas morreram. Fiquei um bocado triste, mas tive de me conformar, porque pilhas CR2 não há por aí assim ao virar da esquina. As fotografias ficam para uma próxima visita, que está para breve, porque o local vale bem a pena.

terça-feira, julho 3

Queixa do "primeiro-ministro enquanto tal e cidadão"...

Estou a seguir com muita curiosidade o desenrolar do processo por difamação que foi interposto por José Sócrates ao autor do Portugal Profundo. Já pensei que este processo acabará por tomar o pulso ao estado da democracia em Portugal. Este governo, e a administração que dele depende ultimamente dedicam-se a actos de cariz perigosamente totalitário. Que dirão os tribunais? Será que ainda é permitido aos cidadãos opinar livremente sobre quem os governa?

Não posso evitar pensar na eleição dos maiores portugueses. O zé povinho venera a imagem de Salazar, o governo traz de volta a censura e o castigo arbitrário cai sobre os que levantam a voz contra o regime.

segunda-feira, julho 2

O Aquário foi Actualizado

Agora levo sempre o olho de peixe a passear ao fim de semana... cada vez brinco mais, agora ando-me a divertir com a abertura do obturador e com múltiplas exposições. Os curiosos podem espreitar aqui as actualizações.

sexta-feira, junho 29

Cuidado com as Piadas (continuação)

Portugal está a ficar cada vez mais perigoso para a pessoas com sentido de humor. Pelo menos é o que parece, depois do caso da DREN a Directora de Centro de Saúde de Vieira do Minho foi demitida do seu cargo por "quebrar dever de lealdade". Na prática parece que a senhora foi posta na rua por não retirar das suas instalações um comentário jocoso sobre o Ministro da Saúde, Correia de Campos. Isto parece um bocado rebuscado...

Entretanto em outras notícias, o autor do blogue Do Portugal Profundo, o mesmo que denunciou umas coisinhas meio esquisitas que havia com a licenciatura do Primeiro Ministro, está a ser ouvido como arguido num processo num inquérito judicial, pelos vistos José Sócrates apresentou uma queixa contra ele.

Fora de Catálogo (continuação)

Ontem consegui o milagre de sair a horas do trabalho (às horas que o horário estabelecido dita) e propus-me descobrir um pouco mais de Madrid e ir visitar o PhotoEspaña 2007, certame que dura até 22 de Julho e engloba várias exposições e actividades espalhadas pela capital espanhola e outros sítios. Não consegui ver grande coisa, apanhei várias exposições a fechar, vou ter de dedicar mais tempo a visitar a cidade e os pontos que compõem o circuito oficial.

Mas com um pouco de tempo nas mãos e no meio de Madrid decidi prosseguir a minha demanda de que já tinha falado aqui. Comecei pela Fnac, queria ver se aqui a política usada para definir o catálogo era a mesma, mas também bati com o nariz na porta. Pelo menos o horário é diferente, pelos vistos durante a semana fecham às 21:00. Fui direitinho ao Corte Inglês, não fosse ficar à porta de novo (já um pouco frustrado com a situação para dizer a verdade). Mas vá lá, safei-me, tive até às 22:00 para prosseguir os meus propósitos. A verdade é que também não consegui comprar o filme, "Tenéis una peli que se llama gato negro, gato blanco?" - "No lo siento, está agotada". Fiquei frustrado à mesma, mas um pouco mais feliz, pelo menos Kusturika não foi votado ao ostracismo aqui. E mais, ainda consegui apanhar uma grande surpresa, ao encontrar mais produção portuguesa do que encontraria em Portugal. Encontrei por exemplo um pack de oito DVD's de Manoel de Oliveira com alguns dos mais importantes filmes da sua carreira, que me deixou estupefacto. Sinceramente não consigo compreender o paradoxo, os espanhóis nacionalistas como poucos, dão mais atenção à obra portuguesa do que nós próprios.

Seremos um povo assim tão idiota? Sempre prontos a acolher o que vem de fora, e a desprezar o que é nosso?

terça-feira, junho 26

Blade Runner

Ontem um dos meus filmes preferidos fez 25 anos, para mim Blade Runner é uma das melhores longas metragens de sempre e mantém-se perfeitamente actual. Ridley Scott baseou-se numa das novelas de Phillip K. Dick, Do Androids Dream of Electric Sheep? para nos falar de um futuro que se revela cada vez mais próximo. A ficção científica não tem necessariamente de ter batalhas espaciais, tele-novelas épicas com sabres-luz, nem bicharada repulsiva e ansiosa por comer os protagonistas (ver Alien do mesmo realizador). Trata-se sim de investigar as repercussões sociais e eticas da evolução da tecnologia e pôr perguntas sobre as mudanças que o nosso mundo e nós vamos sofrer. Este filme põe perguntas profundas, sobre a própria natureza humana, e o que define a humanidade e a auto-consciência.

Podemos destacar do filme além da visão que ele nos dá para o futuro a mestria técnica evidenciada. Ainda hoje os efeitos especiais são impressionantes conseguindo criar ambientes realistas através de técnicas e esquemas que hoje em dia já foram quase postos de parte dando lugar à imagem gerada por computador. Os ambientes deste filme conseguem-nos transportar para uma realidade alheia, um futuro verdadeiramente credível e algo assustador. Até podemos reconhecer detalhes que já se tornaram realidade como os ecrãs gigantes que tomam toda a fachada dum edifício.

A premissa para o desenrolar da história é simples, no futuro seremos capazes de nos replicar a nós próprios, produzir andróides que são humanos em todos os sentidos. Menos na origem. Será que tal criatura pode ter alma? Sentir? Amar? Como é normal nos homens o conflito ocorre quando essas criaturas são segregadas pela diferença, não reconhecidas como iguais, relegadas para a submissão. Será que está assim tão longe o estádio da evolução humana em que deixaremos de conseguir controlar o que criamos? Ou até que consigamos criar alguma entidade mais inteligente que nós... Podemos encontrar um paralelo óbvio com a clonagem, mas podemos ir mais longe, o genoma humano já foi sequenciado quanto tempo falta até que consigamos produzir humanos sob encomenda? Como faremos depois para encarar as criaturas que criámos? Lidar com estas questões leva-nos a olhar para nós próprios e para as nossas limitações.

I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die.

quarta-feira, junho 20

Fora de Catálogo

A propósito dos Shantal e Bucovina Orkestar, estava eu a tentar definir o seu estilo de música a alguém e como já disse anteriormente a comparação possível que me ocorreu foi a música de Emir Kusturica e dos No Smoking Orchestra. Ora para o meu interlocutor (no caso interlocutora) o realizador e músico também era desconhecido, depressa a conversa divagou para os méritos e talentos cinematográficos deste senhor. Em concreto fartei-me de falar do Underground, e do Gato preto, gato branco. Numa passagem pela Fnac, e num impulso consumista, dispus-me a comprar algum dos filmes para presentear a tal pessoa.

Fartei-me de procurar nas estantes e escaparates, estava na loja do Chiado, e a organização da secção de vídeo (pelo menos nessa sucursal é péssima). Parece que os filmes estão divididos por filmes em saldo, filmes americanos e filmes clássicos. As séries americanas também lá estão com grande destaque. Produção nacional? Nem vale a pena falar disso... Depois de procurar 10 minutos, a minha paciência esgotou-se, e dispus-me a esperar outros 10 para falar com a pessoa que estava a atender ao público nessa secção. Lá chegou a minha vez, e lá expus a minha questão. Andava à procura do "Gato Preto, Gato Branco" em concreto, muito atencioso e simpático o encarregado demonstrou saber de cinema, imediatamente (sem consultar o stock nem nada) me disse que o filme tinha saído de catálogo. A minha cara de estupefacção foi respondida com um certo ar resignado, não consegui evitar perguntar, "saiu de catálogo? isso quer dizer o que? já não se vende?" - "Pois, já saiu de catálogo à dois anos".

Eu frequento a Fnac porque mesmo assim são eles que me conseguem oferecer uma escolha mais ampla em termos culturais, e onde ainda se vão conseguindo encontrar as coisas. Mas mesmo assim a escolha é redutora, o mercado nacional está excessivamente populado com produção externa (mais concretamente americana). A desatenção à produção europeia, e pior ainda nacional é gritante. Outro exemplo disto tive-o à tempos antes dos CSS ficarem extremamente conhecidos e terem concertos marcados para Portugal era impossível comprar um CD deles (depois ainda se chateiam da malta arranjar as coisas em mp3 pirata). O que mais me chateia é que não encontro loja alguma que dê atenção a isto, o catálogo é todo o mesmo. A Valentim de Carvalho, loja e distribuidora nacional em declínio resolveu copiar tudo da Fnac, incluindo meter cafés dentro das lojas, quando na realidade o que deviam fazer era distinguir-se fornecendo um produto mais adequado ao mercado português que supostamente conhecem melhor. Mas não, acho que não, hoje em dia a Valentim não deve passar da subsidiária portuguesa da EMI. Mal por mal, ainda prefiro os franceses da Fnac que pelo menos são europeus.

Não sei se esta orientação para a produção americana (em termos de música e de audiovisual) e o desprezo pela produção nacional é um mal nacional. Mas estou seriamente inclinado a pensar que sim. O termo de comparação que posso usar com propriedade é o caso espanhol, onde o destaque dado à produção autónoma é incomparável. Importa mudar isto, se mais alguém discorda do estado de coisas hoje em dia, descruzem os braços e ponham-se em campo. Há coisas que podem ser feitas, coisas bastante simples como levantar a voz apenas. Apresentar uma reclamação ou ir aqui deixar a opinião.

terça-feira, junho 19

Oeiras Alive 2007

Eu estive lá, já passou quase uma semana e meia e ainda não anotei as minhas opiniões, é tempo que o faça sob pena de que se me varra da memória tudo o que quero plasmar. Ando com o tempo curto como já se vai tornando habitual, mas cuidar de escrever devia ser mais importante para mim do que é, tenho cada vez menos tempo livre. Razão de sobra para me dedicar com mais ímpeto às coisas que gosto e dou importância, nota a deixar para o futuro.

Considerações pessoais aparte, importa tecer algumas considerações sim ao festival que mudou de nome. Primeiro foi genericamente Festival Alive acabou por se transformar no Oeiras Alive, o que até tem lógica porque foi o conselho de Oeiras (passeio marítimo de Algés) que acolheu a festa. Para primeira edição as coisas até nem correram muito mal, notaram-se algumas falhas, como a fila insuportável que os portadores de bilhete de três dias tiveram de gramar para pôr a pulseira que dava livre acesso. Outro detalhe que é curioso realçar, é a quantidade de lixo gerado num evento com supostas ambições de cariz ambiental. À entrada lá estavam os habituais e irritantes distribuidores de panfletos vários que não se coíbem de oferecer literatura repetida só para se livrar dos molhos de papel que trazem de casa. Dentro do recinto a distribuição de merchandising inútil enche o chão de porcaria, patrocinado por esta ou aquela marca, já se sabe. Uma iniciativa curiosa, mas risível, era a possibilidade de trocar não sei quantos copos de cerveja usada por uma bolsa da Sagres. Ora claro está que as meninas que andavam a distribuir aquilo davam a bolsa a toda a gente, e essas mesmas bolsas acabaram por pavimentar todo o recinto.

Mas vamos ao que interessa. O que na realidade levou milhares de pessoas àquele recinto foi a música, como devia de ser em todos os festivais. Os grupos que protagonizaram cada noite têm uma legião de fiéis suficientemente grande para assegurar casa cheia. Tanto que notava-se que havia fãs de todo o lado, não só portugueses, muitos espanhóis e muitos bifes (passe a expressão). Foi possível comprovar isso mesmo, logo na primeira noite, e também mais concorrida. Infelizmente já cheguei muito atrasado (por causa da seca das pulseiras) já não consegui apanhar os Blasted Mechanism. Aguentar os Linkin Park e os adolescentes que faziam questão de torcer por eles até foi engraçado ao início, mas depressa se transformou num fartote. Quando os Pearl Jam começaram a dar sinais de que iam subir ao palco foi quando realmente se animou a noite. Como se estivessem a jogar em casa Eddie Vedder e companhia fizeram o que quiseram do público que em júbilo se deleitou com todos os clássicos que se podiam (ou não esperar) incluindo a canção Alive que não sei se teve alguma coisa a ver com o mote para o festival. Pelo que ele diz, Eddie adora Portugal, adora vir cá surfar, e traz sempre uma folhinha com as coisas que tem de dizer em português e recados para a malta. O homem realmente sabe dominar multidões, tornando qualquer espectáculo digno de memória, vi-os nas três vezes que vieram a Portugal e concerteza não hesitarei na próxima oportunidade. É certo que talvez seja tudo um pouco montagem. Na noite em Lisboa mostrou-se chateado por ir actuar em Madrid no dia seguinte (até leu da sua cábula, dizendo textualmente e em bom português "que se foda madrid"), depois já em Madrid falou mal de Portugal aos espanhóis conseguindo reacções igualmente efusivas. Mas isso são apenas fogos de artifício, o essencial é a que a multidão apesar de extremamente apertada não parava de dar asas ao seu entusiasmo a cada música. De braços no ar e a gritar a pleno pulmão, houve momento quase mágicos. Como quando Vedder se limitou a tocar guitarra enquanto o público entoava a letra de Better Man. O concerto durou mais de duas horas, mas para mim tudo passou num ápice, soube a pouco até. Menção honrosa especial para o acontecimento que houve a seguir no palco Sagres Mini, o palco secundário, com os Shantal e Bucovina Orkestar que trouxeram bons momentos de riso, baile e diversão para descomprimir depois das emoções do prato principal. Com um som muito Kusturica a energia do cantores e dos instrumentos tradicionais converteram um punhado de resistentes que queria mais depois da dose dessa noite.

No dia seguinte o cansaço e a fatiga (o adjectivo mais correcto será mesmo preguiça) impediram-me de chegar a horas decentes de novo. Mesmo assim aproveitei um pouco mais o cardápio. Ainda vi um pouco dos Balla, e tive tempo para recordar os Capitão Fantasma que não ouvia sequer falar à séculos. Estão vivos e de boa saúde por sinal, e também os rockbillys em Portugal pelos vistos como pode atestar quem lá estava. Os Dead 60's falharam o compromisso (não sei muito bem porquê). Fiquei um pouco desiludido, mas o facto é que as duas bandas que vinham a seguir no palco principal me chamavam muito mais a atenção. A oportunidade de ver os White Stripes foi algo de excelente, é avassalador a quantidade de ruído, barulho, som, que duas pessoas conseguem produzir. O duo entrou em palco com uma pulsão impressionante. As raízes blues e country eram reconhecíveis é óbvio. Mas não consigo deixar de pensar nos Led Zeppelin por exemplo ao tentar definir os sons que me chegavam aos ouvidos. Meg White, com um aspecto minúsculo e frágil deve ter conseguido fazer tremer a estrutura do palco com as pancadas que dava na bateria. Jack White, ecléctico distribuiu emoções fortes com a sua voz e a guitarra. As canções já conhecidas de todos fizeram-se soar de viva voz. Mas o momento que mais me impressionou foi quando Jack se agarrou ao órgão em My Doorbell. Começando na música pesada, e através de uma série de divagações, esteve quase a roçar os ritmos latinos e a salsa. Uns dançavam, outros saltavam, excelente. Os Smashing Pumpinks são outros da velha guarda, tal como os Pearl Jam, com uma boa legião de fiéis seguidores praticamente desde a sua génese. Não os tinha visto ainda, apesar de já terem passado por Portugal e encontrava-me muito expectante. Ainda mais pela formação que ia passar pelo palco, dos elementos originais, só lá estava Jimmy Chamberlain e Billy Corgan. Sinceramente não dei pela falta de nenhum dos outros. Para tanta expectativa uma entrada surpreendente, não pelo tema escolhido, mas pela pequena chuvada que caiu exactamente no momento em que soaram os primeiros acordes de Today. Mesmo que tivesse sido preparado não podia ter saído melhor o quebra-gelo inicial que deu lugar a uma visita pelo enorme espólio da banda. Tocaram muitos dos temas que toda a gente estava à espera, incluindo o tema que mais facilmente lhes é associado Bullet with Butterfly Wings. Mas também tocaram pequenas pérolas, em particular uma canção que eu adoro mas não estava nada à espera de ouvir naquela noite, Cherub Rock. Depois de tanta emoção ainda fui abanar o capacete ao som dos Dezperados. A dupla mascarada tem um ritmo arrasador, o fim perfeito para uma grande noite de música.

A verdade é que no domingo estava exausto, arrastei-me até ao recinto mais por descargo de consciência que outra coisa. Mas depressa me passou, os Wray Gunn e a energia de Paulo Furtado conseguiram injectar-me a energia suficiente para me manter acordado umas horas. A ele energia é o que não lhe falta, além da força que imprime nas canções ainda consegue saltos acrobáticos para o público e banhos de (mini) multidão. Os Beastie Boys nunca tinham pisado palcos portugueses, e seguramente tinham muitos fãs à espera. A ausência de público era notória mas mesmo assim reuniu-se um bom número de pessoas à volta do palco principal para ver os rapazes de Brooklyn. A actuação foi competente, meteram a malta a bater o pézinho e a dançar mas não tenho dúvidas que o espectáculo teria tido mais resposta dos assistentes se no dia seguinte não fosse dia de trabalho. Com muito esforço lá fui assistir a um pouco dos Buraka Som Sistema, mas já não deu para muito, tive de desistir, ir para casa render-me à cama. Mas foi pena porque o som africano nascido na Buraca vai longe, além dos fãs que já conseguiram em Portugal, já chegou a sítios como o Festival de Glastonbury.