À uns dias escrevi sobre televisão, na realidade tinha-me proposto escrever sobre um canal fantástico de que sou fã, e em vez de escrever sobre o segundo escrevi sobre o primeiro. A RTP2 sempre foi para mim uma mixórdia deliciosa, com momentos um pouco mais aborrecidos e com demasiado eruditismo é certo, mas no final deixa bom sabor na boca. O Onda Curta é dos meus programas preferidos. Foi relegado para um horário extremamente inconveniente, como muitos programas que mereciam melhor. Quase a procurar um pretexto para dizer: não as pessoas não gostam de magazines culturais, ninguém os vê.
Foi lá que descobri a história desta peça arqueológica do cinema. Le Voyage dans la Lune foi obra de um dos primeiros artífices do cinema, Georges Méliès, que se baseou na obra de outro visionário, Júlio Verne. As imagens a preto e branco deste filme fazem parte do nosso imaginário colectivo. Mas a cópia a preto e branco não era mais do que a cópia que melhor tinha resistido ao passar do tempo, uma das muitas bobines que foram produzidas numa época em que as facilidades das cópias digitais estavam ainda a anos-luz. Uma particularidade do cinema de Méliès é que para dar mais apelo visual aos seus filmes, nas melhores cópias o celulóide era pintado à mão para que quando fosse visionado numa sala os espectadores fossem agraciados com um verdadeiro universo de fantasia.
Restaram algumas cópias intactas de outros filmes que atestavam a veracidade histórica das técnicas usadas... Mas da viagem à Lua não sobrou nenhuma... Até que uma cópia em grave estado de conservação foi encontrada. A história do restauro é um bocado rocambolesca, e fascinante para mim devo admitir. Um empenho quase fanático do historiador que encontrou a bobine para a restaurar, e mais tarde a ajuda de técnicas digitais permitiu que hoje em dia possamos ver o filme tal como ele foi exibido na época. Os sinais do tempo não foram completamente apagados, a restauração não é perfeita, mas tal só contribui para nos identificarmos ainda mais com as pessoas que tiveram a sorte de presenciar os primeiros passos da magia do cinema. Ah e a banda sonora de uma das minhas bandas preferidas só ajuda.
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