Eu estive lá, já passou quase uma semana e meia e ainda não anotei as minhas opiniões, é tempo que o faça sob pena de que se me varra da memória tudo o que quero plasmar. Ando com o tempo curto como já se vai tornando habitual, mas cuidar de escrever devia ser mais importante para mim do que é, tenho cada vez menos tempo livre. Razão de sobra para me dedicar com mais ímpeto às coisas que gosto e dou importância, nota a deixar para o futuro.
Considerações pessoais aparte, importa tecer algumas considerações sim ao festival que mudou de nome. Primeiro foi genericamente Festival Alive acabou por se transformar no Oeiras Alive, o que até tem lógica porque foi o conselho de Oeiras (passeio marítimo de Algés) que acolheu a festa. Para primeira edição as coisas até nem correram muito mal, notaram-se algumas falhas, como a fila insuportável que os portadores de bilhete de três dias tiveram de gramar para pôr a pulseira que dava livre acesso. Outro detalhe que é curioso realçar, é a quantidade de lixo gerado num evento com supostas ambições de cariz ambiental. À entrada lá estavam os habituais e irritantes distribuidores de panfletos vários que não se coíbem de oferecer literatura repetida só para se livrar dos molhos de papel que trazem de casa. Dentro do recinto a distribuição de merchandising inútil enche o chão de porcaria, patrocinado por esta ou aquela marca, já se sabe. Uma iniciativa curiosa, mas risível, era a possibilidade de trocar não sei quantos copos de cerveja usada por uma bolsa da Sagres. Ora claro está que as meninas que andavam a distribuir aquilo davam a bolsa a toda a gente, e essas mesmas bolsas acabaram por pavimentar todo o recinto.
Mas vamos ao que interessa. O que na realidade levou milhares de pessoas àquele recinto foi a música, como devia de ser em todos os festivais. Os grupos que protagonizaram cada noite têm uma legião de fiéis suficientemente grande para assegurar casa cheia. Tanto que notava-se que havia fãs de todo o lado, não só portugueses, muitos espanhóis e muitos bifes (passe a expressão). Foi possível comprovar isso mesmo, logo na primeira noite, e também mais concorrida. Infelizmente já cheguei muito atrasado (por causa da seca das pulseiras) já não consegui apanhar os Blasted Mechanism. Aguentar os Linkin Park e os adolescentes que faziam questão de torcer por eles até foi engraçado ao início, mas depressa se transformou num fartote. Quando os Pearl Jam começaram a dar sinais de que iam subir ao palco foi quando realmente se animou a noite. Como se estivessem a jogar em casa Eddie Vedder e companhia fizeram o que quiseram do público que em júbilo se deleitou com todos os clássicos que se podiam (ou não esperar) incluindo a canção Alive que não sei se teve alguma coisa a ver com o mote para o festival. Pelo que ele diz, Eddie adora Portugal, adora vir cá surfar, e traz sempre uma folhinha com as coisas que tem de dizer em português e recados para a malta. O homem realmente sabe dominar multidões, tornando qualquer espectáculo digno de memória, vi-os nas três vezes que vieram a Portugal e concerteza não hesitarei na próxima oportunidade. É certo que talvez seja tudo um pouco montagem. Na noite em Lisboa mostrou-se chateado por ir actuar em Madrid no dia seguinte (até leu da sua cábula, dizendo textualmente e em bom português "que se foda madrid"), depois já em Madrid falou mal de Portugal aos espanhóis conseguindo reacções igualmente efusivas. Mas isso são apenas fogos de artifício, o essencial é a que a multidão apesar de extremamente apertada não parava de dar asas ao seu entusiasmo a cada música. De braços no ar e a gritar a pleno pulmão, houve momento quase mágicos. Como quando Vedder se limitou a tocar guitarra enquanto o público entoava a letra de Better Man. O concerto durou mais de duas horas, mas para mim tudo passou num ápice, soube a pouco até. Menção honrosa especial para o acontecimento que houve a seguir no palco Sagres Mini, o palco secundário, com os Shantal e Bucovina Orkestar que trouxeram bons momentos de riso, baile e diversão para descomprimir depois das emoções do prato principal. Com um som muito Kusturica a energia do cantores e dos instrumentos tradicionais converteram um punhado de resistentes que queria mais depois da dose dessa noite.
No dia seguinte o cansaço e a fatiga (o adjectivo mais correcto será mesmo preguiça) impediram-me de chegar a horas decentes de novo. Mesmo assim aproveitei um pouco mais o cardápio. Ainda vi um pouco dos Balla, e tive tempo para recordar os Capitão Fantasma que não ouvia sequer falar à séculos. Estão vivos e de boa saúde por sinal, e também os rockbillys em Portugal pelos vistos como pode atestar quem lá estava. Os Dead 60's falharam o compromisso (não sei muito bem porquê). Fiquei um pouco desiludido, mas o facto é que as duas bandas que vinham a seguir no palco principal me chamavam muito mais a atenção. A oportunidade de ver os White Stripes foi algo de excelente, é avassalador a quantidade de ruído, barulho, som, que duas pessoas conseguem produzir. O duo entrou em palco com uma pulsão impressionante. As raízes blues e country eram reconhecíveis é óbvio. Mas não consigo deixar de pensar nos Led Zeppelin por exemplo ao tentar definir os sons que me chegavam aos ouvidos. Meg White, com um aspecto minúsculo e frágil deve ter conseguido fazer tremer a estrutura do palco com as pancadas que dava na bateria. Jack White, ecléctico distribuiu emoções fortes com a sua voz e a guitarra. As canções já conhecidas de todos fizeram-se soar de viva voz. Mas o momento que mais me impressionou foi quando Jack se agarrou ao órgão em My Doorbell. Começando na música pesada, e através de uma série de divagações, esteve quase a roçar os ritmos latinos e a salsa. Uns dançavam, outros saltavam, excelente. Os Smashing Pumpinks são outros da velha guarda, tal como os Pearl Jam, com uma boa legião de fiéis seguidores praticamente desde a sua génese. Não os tinha visto ainda, apesar de já terem passado por Portugal e encontrava-me muito expectante. Ainda mais pela formação que ia passar pelo palco, dos elementos originais, só lá estava Jimmy Chamberlain e Billy Corgan. Sinceramente não dei pela falta de nenhum dos outros. Para tanta expectativa uma entrada surpreendente, não pelo tema escolhido, mas pela pequena chuvada que caiu exactamente no momento em que soaram os primeiros acordes de Today. Mesmo que tivesse sido preparado não podia ter saído melhor o quebra-gelo inicial que deu lugar a uma visita pelo enorme espólio da banda. Tocaram muitos dos temas que toda a gente estava à espera, incluindo o tema que mais facilmente lhes é associado Bullet with Butterfly Wings. Mas também tocaram pequenas pérolas, em particular uma canção que eu adoro mas não estava nada à espera de ouvir naquela noite, Cherub Rock. Depois de tanta emoção ainda fui abanar o capacete ao som dos Dezperados. A dupla mascarada tem um ritmo arrasador, o fim perfeito para uma grande noite de música.
A verdade é que no domingo estava exausto, arrastei-me até ao recinto mais por descargo de consciência que outra coisa. Mas depressa me passou, os Wray Gunn e a energia de Paulo Furtado conseguiram injectar-me a energia suficiente para me manter acordado umas horas. A ele energia é o que não lhe falta, além da força que imprime nas canções ainda consegue saltos acrobáticos para o público e banhos de (mini) multidão. Os Beastie Boys nunca tinham pisado palcos portugueses, e seguramente tinham muitos fãs à espera. A ausência de público era notória mas mesmo assim reuniu-se um bom número de pessoas à volta do palco principal para ver os rapazes de Brooklyn. A actuação foi competente, meteram a malta a bater o pézinho e a dançar mas não tenho dúvidas que o espectáculo teria tido mais resposta dos assistentes se no dia seguinte não fosse dia de trabalho. Com muito esforço lá fui assistir a um pouco dos Buraka Som Sistema, mas já não deu para muito, tive de desistir, ir para casa render-me à cama. Mas foi pena porque o som africano nascido na Buraca vai longe, além dos fãs que já conseguiram em Portugal, já chegou a sítios como o Festival de Glastonbury.
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