Uma das poucas (mas boas) ofertas que recebi este Natal foi o livro Persepolis, de Marjane Satrapi. Sem dúvida quem fez a oferta pensou no meu gosto pela BD, não sei até que ponto os meus sogros me conhecem, mas acertaram em cheio (obrigado Carmen e Ricardo). O livro de cariz autobiográfico relata a vida e as experiências da autora, que está intimamente ligada a um país e uma cultura, digamos antes à opressão de um país e de uma cultura. Satrapi nasceu no Irão, quando este ainda era governado pelo Sha. Logo nas primeiras páginas ficamos a saber um pouco mais sobre a história milenar da Pérsia, e de como convulsão atrás de convulsão o grande império dos tempo antigos se transformou num regime islâmico e opressor depois de ter sido espremido pelas garras avarentas do Ocidente.
Mas o centro da accção é a própria autora, após crescer numa família liberal e letrada, e estudar no liceu francês de Teerão dá-se a revolução islâmica que transforma toda a vida no país. Vê.se de repente a usar véu, presencia a estranha e súbita mudança de discurso dos professores. Ao estalar a guerra os pais, prudentes, mandam-na para Viena onde prosseguem as peripécias da jovem menina. A adolescência num país estranho e desprovida de amigos verdadeiros deixam as suas marcas. Marjane passa por ser aluna brilhante para acabar a dormir na rua e quase morrer de pneumonia. Fora do seu país sente-se exilada, quando acaba por retornar descobre que o fundamentalismo está a estrangular o seu país, descobre que não há nada para que voltar.
Originalmente esta saga foi publicada em quatro volumes, mas na edição que me chegou estão todos compilados num único. Confesso que a parte que mais me fascinou da narrativa foram os primeiros anos, em que a personagem principal ainda é uma menina. Fascinou-me a sua visão do mundo e dos adultos, distanciada das mentiras e das reviravoltas da politica e dos interesses internacionais que acabam por desembocar na desgraça do seu povo. Em termos técnicos os quadradinhos que dão corpo à obra não são nenhuma proeza, no entanto cumprem perfeitamente o papel de nos transportar até ao mundo simples e expressivo em que vive a menina. Tenho a versão em espanhol desta obra, desconheço completamente se existe em português, mas aconselho. Entretanto a autora já publicou muitas outras obras, relacionadas com o Irão e não só, mas um dos últimos projectos foi a adaptação cinematográfica de Persepolis (em desenho animado), quero ver!
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