Há alguns dias visitei finalmente ao Teatro Nacional D. Maria II, já desde há muito tempo que queria conhecer o teatro pensado por Almeida Garret. Já tinha andado pelo café e pela livraria do edifício, mas desde à muito que alimentava a curiosidade de me sentar numa poltrona e assistir a uma peça.
Foi precisamente na sala Garret que assisti à peça Um Conto Americano, adaptada a partir de um texto que originalmente era um conto para a rádio The Water Engine de David Mamet. A história é simples, muito simples até talvez e cheia de clichés. No entanto o tema que lhe serve de fundo não podia ser mais actual. Está ambientada em Chigago, nos anos 30, quando os americanos vivem mergulhados na Grande Depressão. Um jovem que trabalha como assalariado numa fábrica dedica-se ao ofício de inventor nas horas vagas, conseguindo desenvolver um motor que funciona apenas a água. Pensando que isso lhe trará fama e fortuna, e o livrará a ele e à família da miséria em que vivem dirige-se prontamente a um advogado de patentes. Mas a realidade não é tão cor-de-rosa, e a história acaba por ter um fim triste e sangrento com o protagonista a lutar por salvar a sua invenção.
Posso dizer que fiquei extremamente impressionado com a cenografia e todo o espectáculo em palco. Para isso contribuiu em muito a dimensão do palco e a qualidade da sala. Mas o que me chamou realmente a atenção foi o cenário, uma estrutura metálica única que se desdobra e roda sobre si de modo a seguir a história e os actores, trocando de ambiente num piscar de olhos. Isso e alguns efeitos cénicos para mim nunca vistos numa sala de Teatro como uma chuvada com água de verdade, nada de extraordinário, mas surpreendente na mesma. O texto apesar de não ter sido originalmente pensado para o formato teatral funciona muito bem. E os actores e figurantes também fazem um excelente trabalho a construir esta fantasia soturna e triste. A única peça do elenco que não me convenceu foi actriz principal, uma menina que já fez por aí umas telenovelas, mas que não sei se tem jeito para mais do que isso.
Em jeito de conclusão posso dizer que adorei a peça, a história é muito simples, mas além de ser extremamente actual olha com um olhar crítico a sociedade e como ela é controlada interesses económicos penalizando os comuns dos mortais muitas vezes. Creio que o nome escolhido para a adaptação portuguesa ao teatro deve qualquer coisa ao cliché do sonho americano, que aqui encontra a sua némesis.
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