Na passada sexta-feira fui ao King à meia noite vêr este documentário, não sei se o filme despertou muito interesse em Portugal ou não, mas o facto é que estávamos cinco pessoas na sala. Talvez fosse da hora e do dia, ou talvez não, se calhar a maioria das pessoas prefere algo mais leve que espreitar a vida de um maníaco-depressivo. Sem saber muito sobre Daniel Johnston ou sobre sua obra fui cativado por alguns comentários e pela aparente reverência que algumas figuras da música lhe prestam. O interesse do público pela pessoa provavelmente despertou numa altura em que Kurt Cobain andava a passear uma t-shirt desenhada por Daniel (segundo a história andou seis meses seguidos com ela vestida).
O documentário em si é uma colagem, com pedaços de filme e de audio tomados pelo próprio Daniel, entrevistas com muita gente (uns conhecidos outros nem por isso), visitas a muitos lugares mas sempre constante a arte de Daniel. Aparentemente desde petiz o que mais lhe interessava, o seu interesse primordial foi criar. Realizou um filme em que interpretou a mãe, passava o dia fazer desenhos, tocar piano tudo menos trabalhar. Parece fora de lugar numa familia conversadora e cristã como era a sua, talvez venha daí a raíz dos seus problemas. Amaldiçoado desde jovem com uma doença mental, comportamentos pouco vulgares, é quase uma personagem trágico-cómica. De cada vez que parece que vai alcançar o sucesso faz qualquer coisa incrivelmente estúpida que deita tudo a perder...
É perturbador, porque no fim do documentário ficamos com a interrogação, ele é um criador genial e prolífico ou apenas um louco que destacou. É díficil de responder, ao ouvir as canções somos tocados pela voz de criança e pelas letras cruas e ingénuas. Diga-se que passagem que o homem nem sabe tocar guitarra, mas as suas interpretações mesmo assim já tiveram direito a ovações de pé em espectáculos onde deveria ser apenas uma atracção secundária. Os seus desenhos também têm um estilo absolutamente ingénuo e simples, aparentemente sem o mínimo valor, já foram expostos em galerias ou classificados como vandalismo quando aplicados nalguma parede mais respeitável. Eu gostei, valeu a pena assistir a esta longa metragem pelo menos para descobrir o mito e ficar tocado pela personalidade de criança, creio que as outras quatro pessoas que lá estavam também gostaram.
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