Enquanto degustava o momento uma série de ideias começou-me a assaltar. Porque é que há tão poucos espaços verdes na nossa Lisboa? Espaços de lazer dizem que há muitos, centros comerciais então são aos pontapés, mas nem sei se podemos chamar a uma catedral do consumo um espaço de lazer. Quando saímos à rua fomos ameaçados por buzinas, escapes e veículos em movimento que nos querem esmagar como se fossemos obstáculos no seu caminho. Nada comparado à tranquilidade de um jardim. Mas porquê? Poderia argumentar-se que os jardins não dão dinheiro e os centros comerciais sim. Mentira, uma zona de lazer valoriza os terrenos e as habitações à sua volta, melhora a qualidade de vida das pessoas. Mas claro a ganância privada impera sobre o interesse público.
Mas pus-me a pensar ainda mais longe do que isto, então e se fosse uma estratégia intencional... Alienar as pessoas, retirá-las do contexto humano, tirando-nos os nossos pequenos prazeres como espreguiçar-nos ao Sol, ou desfrutar um fim de tarde deitados na relva. Encerrados na nossa selva de betão a única escapatória que temos é ir para o tal centro comercial, fazer o que se faz lá, descarregar as nossas frustrações e pulsões através do consumo. Cá fora a única via para a sobrevivência é ter um veículo maior que o do vizinho que a luta na estrada é impiedosa. Mais rápido, mais musculado, mais fumarento, é a forma de nos sentirmos seguros no nosso pequeno mundo fechado e egoísta. Como num daqueles aviários em que os frangos crescem sem nunca se mexer do mesmo sítio pressionados pelo vizinho do lado, a maioria de nós sobrevive sem nunca saber perceber o que é a verdadeira liberdade.
1 comentário:
Triste pensar que alguém vive sem sentir o gosto de ser livre. Picks excelentes by the way!
Enviar um comentário