Como prometido vou começar a contar as minhas férias, começando pelo Festival Paredes de Coura. Sim, que isso de começar as coisas pelo princípio é para fracos, para fugir um pouco à monotonia (e para não me esquecer de pitada), não vou cair nesse plugar-comum e vou começar pelo fim. Ao fim de duas semanas perdido por Espanha perdido com o meu amigo Tiago, atravessei a fronteira imposta pelo Rio Minho e dirigi-me à margens do Taboão. Cheios de saudades da relva, do convívio, e claro ansiosos por assistir aos concertos.
Chegámos na segunda-feira, dia 14, sob um Sol quente e um céu acolhedor. Depressa nos reunimos com o resto da malta, sim porque temos mais amigalhaços com gosto musical. Encontrar um pedacinho de terreno à sombra, montar a tenda e partir daí estamos no paraíso. Estava mais ou menos tudo no mesmo sítio desde o ano passado, houve alguma alterações claro. A mais notória terá sido a mudança de patrocinador, mas isso não interessa para nada. Passámos a tarde estendidos na relva ao Sol, a contar as aventuras das férias e a dar uma olhadela às miúdas de biquini que andavam por todo o lado. Além disso deu para tirar uma fotos, podem dar uma olhadela na minha ârea do Flickr. Um ponto forte deste festival é o contacto humano, mesmo com a misturada de gente que anda por ali, qualquer um tem tempo para uma palavra simpática ou um olhar maroto. No palco do Jazz na Relva acontecia uma reunião espontânea, uma espécie de busca de novos talentos, andavam a convidar a malta que soubesse tocar e cantar para ir até lá improvisar, ou tocar o que lhe apetecesse. A maior surpresa da tarde foi um carocho com um mau aspecto incrível que deliciou toda a gente com a sua interpretação do Satisfaction, reminiscência talvez do recente concerto dos Stones. À noite na Festa de Recepção no palco secundário, menção especial para os "Warren Suicide" que ainda animaram.
No dia seguinte, dormir até tarde no conforto da tenda (tou a ser irónico caso não se note) levantar e ir até à Vila de Paredes de Coura comer uma bela duma truta, abastecer de provisões e despejar a tripa. Os wc's do Festival, por muito bons que sejam, são sempre um bocado rústicos... Foram os White Rose Movement inaugurar o palco principal, e como não quisémos perder pitada estávamos lá antes da coisa começar, já à procura do spot ideal para vêr todos os concertos. Bom desempenho dos White Rose, que eu quase desconhecia, mas que agradaram bastante. De seguida vieram os Gomez, dos quais sou um fã confesso, e cujo concerto como é lógico me agradou sobremaneira. Nada a dizer dos Madrugada (fui passear...), nem dos Broken Social Scene (encher chouriços). O prato forte desse dia era Morrisey. Nunca o tinha visto ao vivo, nem sou seu especial fã. Sou sim fã dos Smiths, como muitas das pessoas que se passeavam por lá envergando t-shirts alusórias ao grupo dos 80's. Já tinha ouvido dizer que o gajo era um bocado convencido e intratável mas porra... deve ser o tipo mais egocêntrico do universo pelos comentários que foi fazendo ao longo do concerto. Tocaram duas músicas e meia dos Smiths (já explico), o resto foi dedicado ao último album e pouco mais. O início do concerto foi animador, polarizou toda a audiência. O concerto continuou, o gajo ainda meteu uma ou outra dos Smiths lá pelo meio para fazer render o peixe. Exemplo da atitude idiota que trouxe para o palco, Morrisey apresentou os músicos que o acompanhavam, tratando-os todos pelo nome. Ao referir-se a si próprio apelidou-se de sem nome, e classificou-se de pouco importante, isto quando todos os músicos tinham ao peito o seu nome em letras gordas. Quando o concerto já ia longo, soaram os acordes do "Panic!" e o povo exaltou-se, o entusiasmo começou a surgir quando a canção começou, mas Morrisey portou-se como um porco imundo, e a meio (antes da parte mais gira) parou de cantar, desligou-se o som, e piraram-se todos do palco. Depois desta desilusão vieram os Ficherspooner que demonstraram que sabem fazer ao vivo aquela música marada que têm nos discos, mas já começavam a cair as primeiras gotas de chuva, primeiro sinal de problemas. Os X-Wife já tocaram à chuva, no palco secundário. O som dancável e poderoso dos portuenses não me conseguiu segurar, e fugi para a tenda para me abrigar.
No dia seguinte acordar ao som da chuva a bater na tenda, dormir mais, acordar de novo ao som da chuva. Finalmente a resignação, o boletim metereológico era desfavorável, era necessário lidar com a agua que caía. Ainda pensámos em desistir e ir para casa, mas não, como dizem os espanhóis, al mal tiempo buena cara e resistimos. Felizmente a tenda manteve-se estanque ao longo de todos os dias. O guarda-roupa, já de si limitado é que se foi reduzindo à medida que a roupa encharcada se acumulava. Após horas e horas de clausura, lá saímos à rua para comprar um impermeável, peça indispensável num Festival muito húmido. Tudo é negócio, e enquanto na Vila o impermeável rasca custava cinco euros, cá em baixo no recinto do Festival o mesmo item já custava dez. Já devidamente preparados e equipados dirigimo-nos ao palco principal. Com muita pena minha perdemos os Eagles of Death Metal. Mas chegámos a tempo de ver os Gang of Four, exemplo seminal da era do Punk. Cheios de energia, e capazes ainda de algum exercício de destruição. Coitado do micro-ondas que serviu de instrumento de percussão durante uma das músicas, ao ser golpeado com um taco de baseball até ficar irreconhecível. Mas para energia, a dos Yeah Yeah Yeah's que puseram toda a gente aos pulinhos. O ritmo frenético das canções que andaram a rodar pela rádio não deixaram niguém indiferente. Os Bloc Party fizeram a festa, numa actuação muito boa e na qual deu para verificar que ainda vamos ouvir falar muito deles. Os We Are Scientists sofreram-se... Depois disto, nova retirada estratégica devido à chuva...
No dia seguinte mais do mesmo, chuva e frio. Acordei já um pouco doente mas que se lixe. Fomos para o palco principal já tarde, ainda podíamos ter ido mais tarde, ainda chegámos a tempo de assistir ao concerto dos Maduros, o último projecto do Zé Pedro dos Xutos. Que, diga-se de passagem, é uma bela treta. Pegar em velhos clássicos do punk e dar-lhes novas letras em português definitivamente não funcionou, acho que os Maduros estão já um bocado podres. A actuação dos !!! (pronuncia-se chk chk chk) foi bastante boa, se bem que os meninos exageram um bocado no contacto com o público e na exuberância em palco, ficando a música muitas vezes para segundo plano. Os fãs dos The Cramps deliraram com o estilo muito peculiar do grupo. Apesar da idade ainda estão aí para as curvas (grandas pernas da babe)! Mas se havia grupo neste Festival que eu queria vêr eram os Bauhaus. E no fim de contas, já andava a sofrer um bocado à espera, molhado até aos ossos e a tremer de frio. Mas quando soou o Double Dare lá esqueci tudo isso, o concerto foi irreprensível, tocaram tudo ou quase tudo. Passaram por todos os clássicos (acho que só não tocaram o Mask) e ainda houve tempo para fazer uma versão do Transmission dos Joy Division. Já vi o Peter Murphy ao vivo, mas não tem nada a vêr, são mesmo os Bauhaus que eu esperava, negros e assustadores. Mostraram grande unidade na banda, mas sobretudo que sabem muito bem o que fazem, o número está muito bem ensaiado. A música perfeita, com todas as minúcias e pequenos detalhes que se podem ouvir em disco perfeitamente audíveis ao vivo. Um concerto para recordar. É de notar que muitos dos grupos se mostraram surpreendidos, até um pouco chocados, mas sobretudo agradecidos com a reacção do público à chuva durante os concertos. Vinte mil pessoas que vieram para ouvir música, e que apesar da precipitação que se fazia sentir ficaram para isso mesmo, assistir às actuações de quem desfilou pelo palco. Pode parecer um bocado idiota mas sinto-me orgulhoso de lá ter estado.
1 comentário:
excelente foto...
:)
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