Parece que um dos vectores cruciais na estratégia do governo para melhorar a qualidade dos serviços prestados pelo funcionalismo público, é ir disponibilizando cada vez mais serviços na Internet. E-Government, é como se chama, o nome pomposo. Na realidade trata-se apenas de senso comum. Poupa-se dinheiro do Estado, em instalações e funcionários e poupa-se o tempo e maçadas aos cidadãos e contribuintes. As últimas novidade são a possibilidade de constituir uma empresa online, sem ser necessário passar por nenhuma repartição ou secretaria, e publicação online livre e gratuita do Diário da República.
Pessoalmente posso dizer que onde noto mais esta estratégia é em matéria de impostos. Já me habituei à boa vida, preencher a declaração de rendimentos a partir de casa, enviar a partir de casa, e ter uma pré-validação logo ali. Este ano tornou-se possível fazer a liquidação do Imposto Municipal sobre Veículos, ou seja comprar o selo do carro, online. É fazer login, aparece lá a matrículo do nosso carrito (ou carritos, para quem tiver muita guita), põe-se uma cruzinha e já está. O selo aparece-nos em casa dias depois. Assim até dá gosto.
Uma vez as repartições publicas modernizadas e virtualizadas, trazidas para o ciberespaço, só já falta a parte mais difícil da questão. Acabar com estereótipo do funcionário público. O gajo que chega ao trabalho às oito da manhã, bebe o cafézinho à borla na máquina que há lá na repartição, pica o ponto (para ele e para algum colega que nesse dia não pode aparecer). Pouco tempo depois sai para comprar o jornal (o jornal desportivo claro), volta por volta das dez e meia ou onze... Fica um bocado na conversa com a malta, o assunto não interessa muito, pode ser a última contratação do Benfica, ou pode ser a greve geral da semana que vem. Por volta do meio-dia está na hora de sair para almoçar. Lá para as três da tarde volta-se, com má cara claro, que não cabe na cabeça de ninguem trabalhar à hora da sesta. Dá para atender uma ou duas pessoas que estão quase a desesperar da espera... Entretanto fazem-se quatro da tarde, e adeus que se faz tarde! Das senhoras nem falo... É um bocado frustante estar num guichet, depois de ter esperado uma hora, e uma senhora muito descansada dizer-nos: ah isso não é aqui, tem de dirigir-se ao segundo andar para comprar o impresso, isto enquando lima a unhas descontraidamente. Acaba com os nervos de qualquer um.
Concerteza algum funcionário público que leia o parágrafo anterior vai-se sentir ofendido. Alguns com razão, porque realmente trabalham. Mas esses são a excepção, e felicito-os, porque deve ser extremante difícil remar contra a maré num mar de privilégios e preguiça instituída. Os outros, os que criaram o esteriótipo, podiam-nos mandar todos para a reforma, já!
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