terça-feira, outubro 30

Patti Smith no Coliseu

Eu gosto de ouvir muitas coisas, às vezes coisas estranhas que alguém me traz, outras vezes grandes clássicos que descubro porque me ponho a indagar sobre a história recente da música. Já não sei muito bem porque comprei um álbum em Nice Price (ainda tenho o Horses como um dos meus discos mais estimados) mas comecei a ouvir e a gostar de Patti Smith. Lembro-me que na época áurea do grunge essa curiosidade já tinha despertado em mim, e ao mesmo tempo que ouvia a música da moda ouvia também esta senhora incontornável na música do século XX. Aquando do lançamento recente de um disco de versões seu, quase que delirei ao ouvir Smells Like Teen Spirit na sua voz, pareceu-me uma daquelas coincidências de proporções cósmicas. Em termos pessoais Patti Smith tem um lado reivindicativo, e de defesa de certos princípios reminiscentes do Flower Power que automaticamente me fazem ter simpatia por ela. Poetisa, já declarou ser admiradora de Fernando Pessoa, aliás nunca se cansa de o referir. Musicalmente consegue abarcar uma gama incrível de emoções, passar da tranquilidade absoluta ao caos total.

Apresentei-me pois no Coliseu de Lisboa no passado domingo sem saber muito bem que esperar. Cheio de expectativa é certo, mas sem muitos palpites sobre o que iria ouvir ou sobre o que aconteceria em palco. Pelo que sei tinha vindo a Portugal apenas uma vez antes, e o concerto teve uma resposta efusiva. Quando entrei na sala estranhou-me que estivesse a plateia cheia de cadeiras, não sei porquê estava a espera de assistir ao concerto de pé (coisa que afinal se veio a verificar). O ambiente era muito curioso, uma mistura de idades e estratos sociais. Por momentos tive um flashback Fez-me lembrar um outro concerto, com características parecidas, Lou Reed é outra das minhas referências mais antigas. No Coliseu sentada à minha frente estava uma adolescente totalmente vestida de negro, ao lado a acompanha-la o pai vestido a condizer com calças de pai de família e polo da Lacoste. Do meu lado direito um casal bem vestido, equipados com uns binóculos de ópera. Do meu lado esquerdo um pseudo-gótico carregado de correntes. Antes sequer de que apagassem as luzes, já a plateia fervilhava, a antecipação notava-se perfeitamente, com malta aos gritos e a bater palmas antes sequer que apagassem as luzes.

A protagonista da noite entrou de forma muito simples, vestida de blazer e t-shirt branca, onde um desenho com o símbolo da paz e a palavra Love visivelmente desenhados à mão destacavam. Mas desde logo causou grande impacto. Houve gente que se levantou para a saudar e não mais se sentou. A maioria das pessoas ainda ficou indecisa durante algumas músicas até se decidir por ficar de pé. O concerto começou de forma suave com temas e interpretações não muito movimentados, mas o ambiente aquecia a olhos vistos. Passou por vários pontos da sua carreira, falou bastante, embrenhou-se no público por mais do que uma vez, tivemos direito a piropos sobre Portugal e a cidade de Lisboa. O público saltava simplesmente com ouvir algum acorde conhecido, ou o inicio de uma estrofe. Como quando soou jesus died for somebody's sins but not mine e todos saltaram da cadeira para entoar Gloria. Se falei aqui dos Nirvana e de Lou Reed não foi por acaso, já que ouvimos a já conhecida versão de Smells Like Teen Spirit e uma inédita (pelo menos para mim) versão de Perfect Day durante a qual a diva até se esqueceu da letra.

Durante todo o concerto, mas sobretudo no final, o lado reivindicativo e hippie esteve em evidência. Lembrem-se que o povo é quem tem o poder dizia ela, parem a guerra!

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