quinta-feira, abril 19

Liberdade para o Computador Pessoal

Para qualquer pessoa hoje em dia, independentemente da profissão ou ocupação é normal ouvir falar de Sistema Operativo. Este termo refere o software indispensável que fornece uma camada básica que possibilita a interacção entre um computador e um humano. A definição é um bocado críptica, mas é fácil de explicar. Um computador é uma máquina muito geral, que depois necessita de aplicações especializadas para servir as necessidades humanos. Escrever textos, fazer cálculos, ler o mail, navegar na internet, tudo isso são funções que esperamos que um computador faça hoje em dia. No entanto de base, ele não faz nada, é apenas um montes circuitos e cabos. Torna-se necessário instalar um sistema operativo, e mais tarde as aplicações que necessitamos para obter as funcionalidades que esperamos.

Os mais ingénuos podem pensar que não, que quando trouxeram o seu PC da loja limitaram-se a liga-lo e este já exibia alguma da funcionalidade esperada. Não é bem assim, a grande maioria dos PC's vendidos hoje em dia trazem o Windows de base, mas este não faz parte da máquina, nem de forma nenhuma está ligado de forma intrínseca a ela. Trata-se apenas do sistema operativo que foi instalado. A escolha do Windows tem muito a ver com o monopólio que a Microsoft ainda detém sobre o mercado dos computadores pessoais. Os computadores de marca trazem o Windows porque as empresas têm acordos de volume (para obter preços mais baixos), desengane-se quem pensa que é grátis, este custo está diluído no preço final.

Nos computadores que não são de marca, e que são montados pelo jeitoso da loja da esquina, o que acontece muitas vezes é que é instalada uma cópia pirata e já está. Não passa pela cabeça de ninguém comprar o Office, muito menos o Windows. Mas isto traz consequências, uma das mais graves é que ficamos sem actualizações de segurança que facilita a vida aos vírus informáticos, spyware, e demais dores de cabeça que os utilizadores do Windows já tomam como normais.

De tal forma esta associação entre Windows e sistema operativo está enraizada, que para muita gente são uma e a mesma coisa. Mas a realidade é muito diferente, existem muitos mais, alguns especializados outros disponíveis para computadores pessoais comuns. Um exemplo de outro SO é o Mac OS X que vem com qualquer Macintosh recente, e está muito à frente do Windows em termos de fiabilidade e facilidade de utilização. A questão é que é exclusivo, e também é pago (de novo o preço vem diluído no preço que pagamos pela máquina). Até agora estou a falar de SO's proprietários, ou fechados, porque nunca podemos espreitar lá para dentro (pelo menos não devíamos) para ver como as coisas funcionam. Uma cópia de um deste sistemas não é nosso, mesmo no sentido legal, apenas pagámos uma licença para a poder utilizar.

Mas existe uma outra via, uma outra saída para os computadores pessoais. O GNU/Linux. O Linux é grátis (não é necessário pagar licença pela sua utilização), é livre (não está sujeito a restrições impostas pelo acordo de licenciamento), e é aberto (o código fonte utilizado para o construir está disponível para quem lhe apetecer meter o nariz). Ao contrário do que poderia parecer isto traz muitas vantagens. Como há muitos olhos a olhar para o funcionamento interno da coisa, os problemas são detectados (e corrigidos) mais rapidamente. Existe mais margem para a inovação porque há mais gente em paralelo a desenvolver soluções e a abordar os problemas de forma diferente. O mais espantoso é que todo o sistema, desde o componente mais básico, a muitas aplicações que já vêm incluídas são desenvolvidas por voluntários. Entusiastas que se reúnem à volta de projectos de código aberto (Open Source) como o kernel Linux, o X Windows, o OpenOffice ou o Firefox e que em paralelo ou em competição directa vão desenvolvendo e melhorando o seu feudo particular. Todas estas peças soltas são agregadas em distribuições, colecções de software que fornecem um conjunto coeso e que trazem as funcionalidades esperadas pelos utilizadores. Entre as mais conhecidas contam-se o Red Hat e o Suse, que foram também dos primeiros a tentar organizar uma forma de fazer dinheiro a partir de tudo isto.

Quando nasceu o Linux era para geeks. No início só os curiosos é que usavam, não porque tivesse alguma utilidade, mas porque era giro mexer e aprender mais sobre computadores. A primeira batalha a superar foi introduzi-lo no mercado dos servidores, os computadores que nós não vemos mas trazem até nossa casa a Internet, a loja virtual, ou o banco. Os sistemas do Google por exemplo são suportados por computadores que correm Linux (milhares e milhares). A construção mais robusta do sistema torna-o mais resistente a ameaças como os famigerados vírus que assolam o Windows tornando-o ideal para estar nos bastidores. As empresas que têm o modelo de negócio à volta do Linux vivem essencialmente do suporte. Quando há um problema o fornecedor analisa e resolve. No entanto não é obrigatório contrata-los, podemos resolver a coisas nós mesmos, caso tenhamos a inclinação e a competência para tal.

A barreira seguinte para o consumo generalizado, para que qualquer pessoa utilize normalmente no seu computador caseiro é a facilidade de utilização, desde sempre o ponto fraco. Mas as coisas evoluíram muito, hoje em dia há uma multitude de coisas que é bastante mais fácil fazer com o Linux. Instalar software, navegar na net em segurança, criar e editar ficheiros do escritório está mais fácil do que nunca. Hoje foi lançado a novíssima versão da distribuição Ubuntu. Esta denominação foi escolhida porque a palavra quer dizer humanidade para com os outros e parte de uma visão universalista, em que todos temos direito ao acesso aos computadores e ao poder que eles nos oferecem. Esta é também das distribuições que está mais avançada relativamente à tal questão da facilidade de utilização, possibilitando que qualquer pessoa sem conhecimentos técnicos a utilize (até a avózinha lá de casa).

A nova versão chama-se Feisty Fawn, e pode ser obtida através de download, ou caso se prefira é possível pedir os cd's de instalação de forma gratuita. O programa de instalação é bastante mais simples que o do Windows XP, traz todas as funcionalidades que se esperam e um ambiente gráfico muito catita com umas paneleiradas em 3d. Além disso pode-se experimentar sem medos de destruir nada no nosso sistema. Basta inserir o CD e o PC arrancará com o novo sistema, quem quiser pode dar uma voltinha, e só depois (caso queira) fazer uma instalação para disco rígido. Para os mais inseguros é possível continuar a arrancar do CD, a coexistência entre o Linux e o Windows também é possível. Eu no meu caso apenas continuo a aguentar com a Microsoft porque algum do software que necessito para trabalhar é exclusivo do Windows. Essa é a última barreira a vencer.

Ah, uma mensagem para os meus amigos, familiares e conhecidos. Não me tragam o vosso PC inutilizado pelo Windows para formatar e voltar a instalar a maldição. Sintomas normais são os ecrãs azuis, lentidão, ou o periférico que deixou de funcionar ou só funciona às vezes. Nem toco nisso. Em contrapartida questões ou pedidos de ajuda sobre o Linux serão muito bem vindos.

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