Um prestigiado gestor vai tomar posse no cargo de director geral de uma grande empresa. Antes de começar a exercer tem uma audiência privada com o seu antecessor. Leva algumas perguntas preparadas, tem um bom currículo mas nada numa posição deste gabarito.
- Como foi a sua experiência aqui? Deve ser uma tarefa desgastante, gerir uma empresa como esta, não deve ser pêra doce!
- Naaa, isto é um descanso pá. Isto aqui não se faz nada.
O novo ocupante da cadeira de direcção fica surpreendido, mas não quer faltar ao respeito a alguem mais velho e mais experiente que ele.
- Definir as estratégias, encontrar as linhas de expansão para o futuro, manter o rigor orçamental,zelar por que tudo na linha, tudo isso decerto ocupava-lhe muito tempo?
- Nada disso, ai estes jovens, chefe que é chefe não faz nada! Ou que é que julgas?
O jovem gestor, já boquiaberto, não sabe que pensar nem que dizer.
- Então mas... não tem nenhum conselho que me dê?
- Ah! Isso sim, escuta bem jovem, deixo-te três cartas...
O homem mais velho tira da gaveta trancada três envelopes selados.
- O teu trabalho é simples, chega atrasado, usa o carro da empresa, o cartão de crédito, abusa das despesas de representação. Até podes andar por aí comer as secretárias a vontade! Mas quando houver dificuldades na empresa, podes recorrer a estas cartas. Em cada uma delas estará a solução para o teu problema.
Agradecido pelo conselho, e pelas cartas o jovem despede-se e toma o seu lugar à frente dos destinos da empresa. Nesse mesmo ano, as coisas começaram a dar para o torto, os lucros da empresa diminuiram, os gastos subiram, os accionistas reclamavam uma explicação. Como escapar a esta situação? Mas é claro abrir a primeira carta! No seu interior dizia:
- Atribui todas as culpas ao teu antecessor, as contas ficaram num estado lastimável, é preciso tempo para recuperar.
Brilhante! Pensou o nosso gestor, e assim foi, a explicação foi aceite. E ele próprio aclamado pelo seu trabalho em vista da situação anterior da empresa. Os anos seguintes foram anos prósperos, até ganhou o hábito de ir viajar às custas da empresa, viagens de de negócios em primeira classe, e despesas de representação evidentemente. Isto é que é vida!
O tempo passou e a crise instalou-se, a empresa começou a apresentar maus resultados de novo, desta vez era mesmo mau, não havia dinheiro para pagar os salários. Altura de abrir a segunda carta...
- Culpa a conjuntura e a crise. A empresa está a ser influenciada pela concorrência externa e pela desacelaração da economia.
Este velho era um tipo esperto, não percebo porque é o puseram a andar, pensou ele. De novo os accionistas aceitaram a explicação, foram feitos despedimentos massivos, e tudo voltou ao normal.
Muitos anos passaram, a empresa não crescia, mas também não faltava o dinheiro. O gestor já não era novo, já tinha familia, e amigos numerosos. Muitos tachos a serem distribuídos. A empresa entra novamente em crise, desta feita, um escândalo. A comunicação social descobre que o nível de rendimento dos gestores está acima da média europeia, enquanto que o dos trabalhadores está muito abaixo....
Após muito reflectir, o nosso gestor vai em busca da última carta. Tem se ser, só assim se vai safar de mais esta. Quando abre a carta e lê o seu conteúdo, fica estupefacto:
- Senta-te e escreve três cartas.
Pode não ter muita graça, mas esta anedota parece quase real. Esta semana rebentou o escândalo quando alguns gestores que foram demitidos de uma empresa pública, voltam a cargos de direcção noutra empresa intimamente ligada com a primeira. Mais ainda, parece que os senhores ainda tão de férias mas já receberam o subsídio de natal.
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