quinta-feira, novembro 25

A Lente de Plástico

Ando muito feliz e contente com a minha nova câmara de brincar, a lente de plástico realmente tem uma qualidade mínima, mas produz imagens com um aspecto realmente vintage que me deixam encantado. Quando fiz a workshop Sprocket Rocket levei-a atrás, porque queria fazer mais fotos com ela, e também para mostrar a gente mais entendida para que me contassem a sua opinião. Trouxe um par de explicações e bons conselhos, e também deixei interesse. Fiquei feliz.

Fui fazendo algumas fotos, sem pressa, desde aí até agora. No fim-de-semana passado que fui de excursão a Marvão acabei o rolo "normal" que tinha posto, e experimentei a conjugação da óptica de plástico com um filme Redscale XR. Por um lado tenho pena de não ter fotos com uma qualidade maior das paisagens do lugar. Por outro lado adorei os céus alienígenas que capturei no Alentejo.

Ficam aqui as fotos que tirei entretanto. Prometo falar mais sobre Marvão, até porque segundo as estatísticas é uma palavra que provoca muitas aterragens neste blog, num artigo que escrevi em tempos.

sexta-feira, novembro 19

Ai Portugal, Portugal

A propósito de uma conversa aleatória com um estranho neste campo de batalha verbal que é a Internet, veio-me esta canção à memória. Não há melhor resposta aos profetas da desgraça que povoam esta nação sem auto-estima. Continua tão actual hoje como em 1982 quando Acto Contínuo, o álbum onde está contida foi lançado.


Tiveste gente de muita coragem
E acreditaste na tua mensagem
Foste ganhando terreno
E foste perdendo a memória

Já tinhas meio mundo na mão
Quiseste impor a tua religião
E acabaste por perder a liberdade
A caminho da glória

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Tiveste muita carta para bater
Quem joga deve aprender a perder
Que a sorte nunca vem só
Quando bate à nossa porta

Esbanjaste muita vida nas apostas
E agora trazes o desgosto às costas
Não se pode estar direito
Quando se tem a espinha torta

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Fizeste cegos de quem olhos tinha
Quiseste pôr toda a gente na linha
Trocaste a alma e o coração
Pela ponta das tuas lanças

Difamaste quem verdades dizia
Confundiste amor com pornografia
E depois perdeste o gosto
De brincar com as tuas crianças

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Escrito e interpretado por Jorge Palma.

terça-feira, novembro 16

Chegou a Quadra do Consumo

Pois é, já estamos naquela altura do ano em que fazemos contas ao que vamos fazer com o subsídio de Natal. Sonhamos com a desejada prenda que vamos oferecer a nós próprios, e tentamos arranjar qualquer coisa de jeito para presentear a malta os familiares e amigos mais chegados.

Este ano quando vieram as primeiras chuvas a sério no fim de Outubro, as sarjetas estavam entupidas como sempre, mas o Município de Lisboa já andava a montar a luzes de Natal na Baixa. Enquanto na Rua das Portas de Santo Antão as pessoas que estavam dentro das lojas e restaurantes ficara com água até à cintura pelo menos os clientes já estavam a ser lembrados que estamos na altura do ano que é preciso gastar.

Eu cá este ano vou-me manter afastado de superfícies comerciais, grandes ou pequenas tanto faz. A invasão natalícia dá-me arrepios. A Amazon do Reino Unido fez um favor enorme a todos nós e já manda as encomendas de graça para vários países europeus incluindo Portugal. Claro que a encomenda precisa satisfazer certas condições, temos de gastar mais de £25 e os produtos têm de ser vendidos directamente pela própria Amazon. Mas é uma oferta excelente, creio que vou passar a utilizar (ainda mais) a loja virtual.

Já estou à caça das minhas contribuições como Pai Natal, a oferta é muita, e escolher é complicado. Mas pelo menos não sou ameaçado por uma manada em debandada para enrolar o seu embrulho. Além disso há coisas que são bem mais baratinhas, como os jogos por exemplo. E atenção que na semana que vem vai haver promoções especiais, numa iniciativa que eles chamam de Black Friday Deals Week.

quarta-feira, novembro 10

Workshop Sprocket Rocket

A mais recente novidade lomogáfrica foi apresentada com grande pompa e circunstância em simultâneo na Embaixada de Lisboa e do Porto. Chama-se Sprocket Rocket, e tem várias particularidades. As suas fotos são panorâmicas, o fotograma é mais ou menos igual a juntar duas fotos normais. Outra coisa interessante é que tem duas rodas, uma para avançar e outra para rebobinar o filme a nosso bel-prazer, permitindo assim fazer remisturas com o filme. Além disto ainda permite expor as perfurações do filme.

No passado fim-de-semana foi realizada uma workshop de apresentação da máquina e claro assim que as inscrições abriram lá fui eu reservar o meu lugar. Já havia participado noutra workshop da lomo, e desta vez a fórmula foi um pouco diferente. O preço era muito baixo, talvez de forma a permitir a todos conhecerem a nova menina. E os participantes organizaram-se em pares, partilhando os rolos, assim também se estimulava a utilização das capacidades da máquina. Eu fiz batota, levei o par já feito, porque participei com a minha cara-metade.

A primeira impressão que tive da máquina foi que está mesmo desenhada para fazer as coisas de que falei de forma prática e precisa. Já abusei muito dos mecanismos das máquinas normais de forma a fazer sobreposições e brincar com a ordem cronológica do filme. Mas a Sprocket Rocket permite-nos controlar tudo isso com precisão em vez de confiar na sorte. Já com os mecanismos para controlar a luz não posso dizer que tenhamos acertado porque houve muitas fotografias a perderem-se.

Foi uma tarde divertida, andámos às voltas pela baixa e tiramos algumas fotos. Não foram muitas porque os rolos de 36 fotos reduzem-se a metade com os panoramas. Quando tudo acabou e entregámos os rolos ficamos a aguardar com impaciência os resultados. Adorei mexer com a câmara. No final acabei por ficar um pouco desiludido, alguns dos fotogramas que tentei encenar perderam-se simplesmente, outros ficaram francamente maus. Param mim as fotos que melhor ficaram foram algumas sem muitos artifícios feitas pela minha namorada. De qualquer forma acho que vou querer mexer mais com a Sprocket Rocket.

A Gakken Flex

Aqui há dias andava a pôr as minhas leituras em dia quando encontrei no blog do Flickr um brinquedo que ainda não conhecia. Como sempre os artigos têm como base um punhado de fotos, neste caso tiradas com uma Gakken Flex e claro aproveitavam para apontar para o grupo onde os utilizadores desta máquina se concentram no Flickr. Não percebi muito bem o que era aquilo... mas como falavam em fotos analógicas maravilhosas (e realmente têm bom aspecto) lá fui investigar.

A primeira coisa que o Google me trouxe foi um relato sobre a montagem da câmara. A ideia fascinou-me de imediato, um kit para montar uma câmara fotográfica. A Gakken é uma editora que se dedicar à edição de produtos educativos e já lançou no mercado uma série de kits interessantes. Além da câmara, houve o gramofone, o sintetizador ou o theramin. Cada kit faz-lhe acompanhar de alguma documentação sobre o tema associado a essa edição.

Acabei por comprar no ebay uma cópia da Gakken Flex, porque o original já não estava disponível. Mas também comprei como prenda de anos para um meu amigo o sintetizador e posso dizer que em ambos os casos foi bastante recompensador o resultado. A montagem no caso do sintetizador foi muito breve. No caso da máquina levei bastante mais tempo, mas apenas porque à medida que seguia as instruções não estava a ser muito óbvio para mim como é que tudo aquilo iria funcionar, em particular o obturador. Mas seguindo à risca as instruções, e as fotos de quem já montou lá consegui chegar ao óbvio. Uma máquina perfeitamente funcional e muito divertida de montar.

Quando introduzi o primeiro rolo o receio era muito. Depois de despachar aquilo mais ou menos depressa, lá fui eu revelar as fotos sem saber muito bem o que esperar. Não saiu nenhuma obra de arte mas aparte de que se notam algumas deficiências na focagem até nem tão más de todo. Gostei do brinquedo, é bastante prático, e tem muita pinta, isso é de certeza. Agora depois de saber que aquilo funciona mesmo acho que vou tentar sacar umas coisas giras daquela lente de plástico!

quarta-feira, novembro 3

Dolce Far Niente

Este verão tive a oportunidade de ir passar uns dias ao Algarve. Tendo em conta que um caro amigo me ofereceu hospedagem em quase qualquer altura do ano, fui bastante idiota por aproveitar apenas um fim-de-semana de Agosto e uns dias já no fim da época balnear em Setembro. Mas mesmo assim valeu a pena. Apesar de levar planos, compromissos, sítios para visitar, acabei por me dedicar a não fazer nada. Dormir muito, pôr as leituras em dia, andar a pé e desfrutar da praia. Uma rotina a que é bastante fácil adaptar-se.

Não morro de amores por Albufeira, como a maior parte do Algarve a euforia da construção destruiu grande parte da beleza. O negócio de vender férias a bifes pobres que cá em Portugal tinham um poder de compra acima da média está-se a esgotar. A solução agora é vender férias em saldos a portugueses ou melhorar a qualidade. Mas se conseguirmos abstrair-nos do mau gosto e do ruído, é fácil perceber que há ali muito potencial.

Cara Lavada

Quem ainda de der ao trabalho de visitar este canto da rede com certeza já se apercebeu que esta casa levou uma demão nova de pintura. A fachada encontrava-se feia e desgastada, porventura um pouco desfasada dos dias de hoje. O objectivo foi rejuvenescer, abrir os horizontes e ao mesmo tempo optimizar o espaço. Espero que gostem, como é óbvio comentários e sugestões são bem vindos.

O template é mais leve, e optei por não incluir demasiada quinquilharia que tornasse a fachada pesada visualmente. Uma novidade é a inclusão de publicidade via Adsense, é só texto e acho que não está demasiado invasivo. Para quem se sente incomodado pela publicidade, tanto aqui como em qualquer outro sítio web existe uma solução bastante fácil à disposição de todos.

Isto por enquanto vai encher-se de velhas notícias, esteve abandonado, mas isso não quer dizer que faltassem as coisas para comentar ou para maldizer. Apenas faltava aquele esforço, pequeno mas extremamente importante, de reunir meia dúzia de pensamentos e dar-lhes forma. Entretanto o que pode acabar por acontecer é escrever freneticamente durante alguns dias e depois esquecer-me de novo, não estranhem. O futuro o dirá.

terça-feira, novembro 2

Festas dos Capuchos 2010

Este ano as tradicionais festas de Vila Viçosa tiveram uma nova fórmula. Houve uma separação entre o que poderia ser considerado o lado mais tradicional e familiar do arraial, e os excessos do barulho dos bares e da música. Acho que se alguma tranquilidade para quem não está interessado nos festejos etílicos, e uma melhor organização do espaço. Mas ao mesmo tempo perdeu-se um dos encantos da festa, o cruzamento entre gerações e grupos de pessoas diferentes que nesta fórmula, bem separados e demarcados, não se cruzam. Para mim este era um dos grande encantos da festa onde se acabávamos por confraternizar com gente diferente do grupo habitual. Segundo dizem por aí, haverá mais alterações, penso que é possível melhorar a ideia.

Escusado será dizer que estive mais envolvido na secção de folia do que noutra coisa qualquer... e como sempre com a minha Fisheye2 pronta para flashar os transeuntes mais distraídos.

sexta-feira, setembro 24

That Thing You Have

Dilbert.com

Demasiado bom para deixar passar! O Dilbert é mesmo a melhor coisinha que há para começar um dia de trabalho.

sexta-feira, julho 30

Uma Luta, Uma Mensagem


Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento, agradeçam e não deixem nada por dizer.
António Feio

segunda-feira, julho 26

Maslow e o Facebook

No outro dia deparei-me com uma adaptação bastante engraçada das Teorias de Maslow sobre a motivação e as necessidades humanas ao uso da Internet no dia a dia. Trata-se de uma piada, mas é bastante aplicável até. A associação deixou-me a pensar.


Nesta versão do diagrama encontram lugar sobretudo os pretextos que nos fazem perder tempo na Internet. Coisas clássicas e intrigantes como a paixão dos utentes do youtube por vídeos de gatinhos. E claro está... reza a lenda que Internet floresceu por causa da pornografia. A última coisa a fazer é trabalhar!

O diagrama original também é uma pirâmide, mas a verdadeira teoria fala sobre as motivações para as nossas acções, e de forma mais importante sobre aquilo que pretendemos atingir. A ideia é que precisamos primeiro realizar as nossas necessidades mais básicas, como respirar, comer, sobreviver. Depois à medida que subimos na pirâmide as necessidades vão ficando mais abstractas. Nem toda a gente quer ser um sábio ou uma celebridade, há quem se contente com uma vida confortável. Mas qualquer um se pode facilmente identificar com as necessidades que estão previstas. Todos precisamos de ter alguém para fugir à solidão, todos queremos ser respeitados.


Mas a utilização da teoria e do diagrama no contexto da Internet fez-me pensar noutra coisa. Na obsessão de cada vez mais gente com as redes sociais, e afins. Ou até mesmo os jogos online. Num mundo como o nosso de profunda competição e instabilidade, será que as pessoas esperam obter a realização que precisam da Internet? Será que é por isso que é tão importante ter milhares de amigos no Facebook... que toda a gente goste das nossas ligações, e as nossas fotografias tenham muitos comentários? Nos jogos ainda é mais fácil estabelecer um paralelo, há muita gente por aí que passa horas em frente a um monitor em tarefas repetitivas para depois se poder gabar das suas aventuras virtuais, das suas posses virtuais, e do nível na hierarquia virtual.

É certamente mais fácil. Luta-se contra obstáculos que foram feitos para ser ultrapassados. Recompensas que foram feitas para ser ganhas. Mas será que estas realizações são mesmo reais ou apenas virtuais? De qualquer forma, parece-me uma boa explicação para as pessoas darem demasiada importância a coisas que não têm cabimento algum... Creio que a triste realidade é que as pessoas que dão demasiada importância à sua vida virtual acabam por ficar cada vez mais sozinhas no mundo real.

quinta-feira, junho 17

Santos & Populares

Soube bem voltar a pegar na olho de peixe, sinto-me descuidado, já não procuro tantos pretextos como antes para fotografa, desta vez será a participação no concurso de Santo António da Lomografia Portugal. Não tenho muitas expectativas, mas valeu a pena o registo de mais um ano de muito festejo, manjerico e contacto com transeuntes aleatórios. São tão giros os santos populares!

quarta-feira, junho 2

Curiosidades Tecnológicas Inúteis

Há muito pouca gente que tenha o hábito de escrever SMS em português correcto... Dá trabalho! Existe a escrita inteligente mas aquilo é uma seca, forçosamente é preciso andar a introduzir palavras no dicionário volta e meia. Depois já se desenvolveu uma espécie de calão em torno das abreviaturas, infelizmente até se confunde esse calão com o português. Substituir os c's por k's ou abusar dos x's fica tão feio... Eu até tento ser correcto, mas o resultado normalmente é algum texto breve e enigmático ou jogos de palavras ininteligíveis.

Mas além da pura preguiça há outra questão importante, existe um limite de caracteres. Esgotando esse limite a mensagem acabará por ser dividida em duas (ou nas que forem necessárias). No outro dia reparei num detalhe curioso, se escrevesse muitos caracteres acentuados o limite esgotava-se num ápice. E claro com a minha curiosidade natural lá fui procurar qual a razão (embora já desconfiasse). O distinto senhor que que inventou os SMS meteu na cabeça que tinha de atingir um certo limite de caracteres para que aquilo fosse minimamente útil. E estamos-lhe todos muito agradecidos por isso. O limite é 160 caracteres por mensagem, com o pequeno detalhe que o número de símbolos (as letras e os diacríticos mais usuais). Depois o resto consegue-se por composição de símbolos, qualquer coisa como "a + ~ = ã".

Eu fiquei contente porque adivinhei a raiz do meu problema (é usada uma codificação de caracteres com apenas 7 bits)... A utilidade prática é duvidosa, mas pelo menos descobri que para poupar nos SMS é preciso escrever mal!

sexta-feira, maio 21

O que nos Motiva Realmente?

Um olhar bem divertido sobre o que nos motiva realmente no trabalho, e na vida. Através de estudos mostra-se como as teorias tradicionais estão fundamentalmente erradas. Mas de facto a forma tradicional de encarar a gestão de pessoas é cada vez mais anacrónica. O homem consciente e pensante não se move atrás de recompensas e cenouras mas sim de forma a sentir-se realizado.

terça-feira, maio 18

Almas Perdidas

Há 30 anos perdemos Ian Curtis mas ainda hoje os ecos da sua obra se fazem ouvir...

sexta-feira, maio 7

Frank the Puppet Dinosaur

Hello. My name is Frank. I am a Funkasaurus Rex. And I love the Black Keys. I also have flippin' awesome dance moves, and I have a profile on eharmony.com if any single ladies are interested!

Estamos perante um lagarto muito romântico, solteiro e com lábia para as meninas. Esta adorável personagem é uma espécie de manobra publicitária que foi criada à volta do lançamento de Brothers, o último álbum dos The Black Keys. A banda apesar de já ter uma longa carreira e muita música editada nunca foi além de um circulo relativamente restrito de admiradores. A editora para o lançamento do novo álbum resolveu desenvolver uma estratégia de marketing de guerrilha. E o Frank é o protagonista principal, com resultados encantadores.

Podem ver o desempenho de Frank em Tighten Up:


e Next Girl:

quinta-feira, maio 6

De Volta

É verdade, voltei a escrever. O meu breve affair com as redes sociais deve estar prestes a terminar. Tornou-se enfadonho, na realidade lutar contra o ruído é uma tarefa hercúlea, e para quê se a mensagem que se pretende transmitir é necessariamente curta e oca. Aquilo é bom para quem não tem nada a dizer, para quem quer coleccionar árvores de fruto virtuais ou amigos virtuais, juntar-se a grupos disto e daquilo, tudo virtual e sem conteúdo.

Eu vou continuar a escrever para deixar a minha opinião, para quem a quiser ouvir, nem que seja apenas a minha humilde pessoa num futuro indeterminado.

Fantasia Lusitana

Este era um dos títulos que mais me atraía no cartaz do Indie Lisboa este ano. O filme de João Canijo protagonizou a cerimónia de abertura, e por isso mesmo as entradas esgotaram num ápice. Também não pude ir à segunda sessão englobada no festival, a agenda era incompatível com horários de expediente. Felizmente esta produção nacional está a ser exibida no Campo Pequeno, e é de aplaudir a visão do programador porque foi ontem numa sala quase cheia que assisti ao filme.

Fantasia Lusitana debruça-se sobre a Lisboa neutral que vivia em alegria enquanto o resto da Europa se debatia num conflito sangrento. Ou assim parece inicialmente, a imagem oficial do regime mostra um Portugal forte e orgulhoso, um povo agradecido à perícia diplomática de Salazar por ter sido poupado às vicissitudes da guerra. Mas à medida que as imagens de arquivo e os comentários deliciosamente fabricados pela máquina do regime vão desfilando apercebemos-nos que algo está terrivelmente errado. Há momentos hilariantes, mas é de profunda tristeza o sentimento preponderante, o sabor que nos fica na boca ao final é amargo.

A paz em que Lisboa está mergulhada é uma paz podre, um peso ostensivo paira sobre a cabeça de todos. Os refugiados que enchem as ruas e esperam em filas intermináveis na esperança de resolver a sua situação. Lisboa para eles é apenas um ponto de passagem numa fuga que terminará noutro sítio. Existem vários tipos de refugiados, uns que não têm nada no mundo, outros que procuram desesperadamente alguém, até os ricos e aristocratas que se perdem em festas e idas ao casino na pretensão de estar a fazer umas férias da guerra. De pano de fundo uma populaça pobre e analfabeta, um Estado que se orgulha dos feitos históricos de Portugal e os apregoa, não tendo mais nenhum meio de defesa do que encher o peito.

Uma das únicas críticas que tenho a apontar ao filme é que não se tenha juntado ao testemunho das várias personalidades de outros países que passaram por Lisboa nesses tempos o testemunho dos locais. O ponto de vista local que é exposto é o do regime, mas com uma ironia impossível de disfarçar, mostrando sempre a fantasia à beira de desmoronar. Por outro lado talvez seja essa mesma a óptica do filme, mostrar de uma forma estanque a estranheza com que um desses peregrinos em fuga encarava o cenário à volta dele. O país estranho feito de fachadas de papier-mâché, onde as luzes continuam a brilhar à noite sem medo dos bombardeamentos, mas onde os fantasmas se arrastam incessantemente como no purgatório.

O filme apesar de não estar na lista de premiados do Indie 2010 merece de sobra a visita a uma sala de cinema. Aliás merece também retê-lo para mostrar aos nossos aos nossos filhos, anos nossos pais e aos nossos avós. Temos fraca memória, depressa esquecemos, mas aqui é possível reconhecer de forma inequívoca a personalidade portuguesa.

Parabéns ao João Canijo por ter a coragem de espicaçar a nossa memória colectiva. E um abraço ao Hugo dos Santos que foi quem fez a selecção das imagens de arquivo.

quinta-feira, fevereiro 25

Um desastre já anunciado

Todos estamos impressionados com os acontecimentos recentes na Madeira. Todos estamos solidários com as vítimas de uma catástrofe natural. Mas isso não basta, é preciso ter um pouco de responsabilidade e ver mais além. Analisar o que realmente aconteceu, e apurar responsabilidades para um desastre à muito anunciado.