quinta-feira, março 29

O Café de Zapatero

Nós em em tempos descobrimos que Guterres não sabe fazer contas, os espanhóis descobriram agora que Zapatero não sabe quanto custa um café.

A los hombres de poder hay que mirarles las suelas de los zapatos. Por lo general las tienen intactas, impolutas, incólumes, apenas rozadas por el polvillo de las moquetas. Cada mañana, un automóvil blindado con cristales oscuros les recoge en la puerta de su casa y les traslada hasta un garaje con ascensor directo a la planta noble. A mediodía almuerzan en restaurantes de fama y por la tarde acuden a algún acto en el que rara vez pisan la acera. Rodeados de una corte de asistentes, no suelen llevar nada en los bolsillos -por eso les caen tan bien los trajes- y han olvidado, si alguna vez lo supieron, cómo es el trato en una ventanilla o cómo funciona un cajero automático. Desconocen el precio de la gasolina porque sus coches siempre están repostados, y cuando les apetece un café tocan un timbre y aparece un enguantado camarero que se lo sirve en vajilla de lujo. Caminan levitando sobre alfombras y un cinturón de escoltas les aísla del pulso de la calle.

No pasa nada, es así y todo el mundo lo sabe. Los tipos que deciden sobre nuestras vidas no conocen, en realidad, nada de ellas. El problema ocurre cuando pretenden aparentar ser gentes sencillas que no han cambiado bajo el peso de sus responsabilidades. Cuando blasonan de austeros y organizan bodas faraónicas o reclaman un jet de la Fuerza Aérea para llevar a Londres a la familia. Cuando presumen de talante común y tutean al interlocutor pero se saltan las colas o mandan abrir paso a los guardias en medio de un atasco. Cuando creen que el contacto con la ciudadanía se puede mantener escrutando encuestas pero olvidan que en ellas nadie pregunta el precio de un café en un bar.
De todas las evasivas respuestas posibles que estaban al alcance de Zapatero en su pregonada entrevista popular - que no toma café, que sólo recuerda la cafetería del Congreso, que suelen invitarlo allá donde va-, el presidente eligió la peor. La que destroza su estudiado empeño de parecer un ciudadano común, la que le retrata como un gobernante alejado del pálpito de la calle. A veces, la política pivota sobre esos detalles cuya nimia apariencia esconde un devastador potencial simbólico. Esos inverosímiles ochenta céntimos reventaron dos horas de respuestas ambiguas y dejaron en el público un mensaje de avasalladora simpleza: el poder, como a todos, sí le ha cambiado. Y lo puso en evidencia un hombre normal, con el rostro arado por los surcos de la vida; un hombre corriente que escarba en su portamonedas para pagarse el cortado.
Sólo por eso, el programa valió la pena. Porque fotografió, siquiera fugazmente, la zanja que existe entre la política y el pueblo. Entre la autocomplacencia del poder y la impotencia de la gente. Entre la macroeconomía y la cesta de la compra. Entre la ingeniería social y la lucha por la vida. Ese cauce poblado por millones de personas que circulan, azacaneando para abrirse paso a través de las vicisitudes de la existencia, entre las dos orillas de una trinchera de prejuicios sectarios a cuyos privilegiados habitantes no les importa la subida sideral de un humilde café.


Ignacio Camacho
in ABC.es

terça-feira, março 27

Viver sempre também cansa!

O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima, os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe, automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima de um divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas por mim, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com o teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...


José Gomes Ferreira

segunda-feira, março 26

Os Clunk no Bacalhoeiro

O Bacalhoeiro é um espaço cultural sediado em Alfama, na rua dos Bacalhoeiros (daí o nome). Os Clunk deram recentemente um concerto lá, e eu lá fui tirar umas fotos da malta. A associação ainda não tem espaço na web mas tem um contacto por e-mail, através do qual é possível subscrever a mailing list onde somos informados do que vai acontecendo. Existem actividades todas as semanas, concertos, exposições, exibição de filmes e documentários, e serviço de bar permanente claro. Um cantinho a descobrir.

As fotos essas estão arrumadas no meu espaço do Flickr. Ah! E um conselho... As revelações na Fnac são baratinhas, e até saem como deve de ser, mas isto só se aplica às fotos a cores... Se querem revelar negativos a preto e branco esqueçam, procurem uma loja de fotografia a sério.

Portugal no Seu Melhor

O puro espírito português vem ao de cima, António de Oliveira Salazar foi eleito o maior português de sempre numa votação televisiva. Parecem rejeitar as conquistas que trouxe a liberdade, sinceramente compreendo a inclusão do ditador numa lista deste género, mas a vitória só se explica pela desinformação, ignorância e iliteracia que ainda é legado desse senhor. Os velhos do Restelo (uns velhos de verdade, outro novos) por esse país fora exprimiram a sua opinião. Aparentemente gostam do mesmo país velho, atrasado e fechado sobre si próprio desses anos idos. Talvez preferissem voltar ao passado, a nossa sorte é que esta gente só tem energia para votar de casa, sentados no sofá em frente à televisão...

Acho que seria uma boa ideia do ponto de vista sociológico traçar um perfil do grupo de votantes em Salazar. Aposto que íamos encontrar um núcleo formado essencialmente por reformados (consumidores ávidos de televisão e nostálgicos) e funcionários públicos, que apesar da filiação nos sindicatos do sector preferiam o status quo, e a inactividade do Estado Novo. E claro, para muitos a lógica corporativista e protectora era o que faria falta neste momento à economia Portuguesa (para sairmos da linha de água e passarmos de uma vez para o clube dos países terceiro-mundistas).

sexta-feira, março 23

Para Que Serve a Poesia

Ando-me a habituar a fazer tudo à pressa, mas não dispenso ler as minhas noticias e dar a minha volta pela blogosfera, hoje descobri um blog muito bom, "De Rerum Natura" (Sobre a natureza das coisas). Fala sobre ciência mas não só sobre as chamadas ciências puras, mas sobre ciências vivas, ciências sociais, e sobre o ensino de ciência. Este ano deixei passar o dia da árvore (que coincide com o dia da poesia), mas encontrei uma entrada bastante boa sobre o assunto nesse tal blog. O texto vinha acompanhado de um excerto da poesia de Eugénio de Andrade, que reproduzo a seguir. Quem se interessa por estes temas não deixe de espreitar, aconselho especialmente a leitura de um outro artigo intitulado "O valor do ensino".

Ver claro

Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade
Abençoado seja se lá chegar.


Eugénio de Andrade in "Os Sulcos da Sede"

domingo, março 18

Subprime Credit

Uma das regalias que se ganha ao pagar uma bela maquia por um bilhete de avião é a possibilidade ler o jornal à borla (outra coisa que não se pode desprezar é que na PGA nos oferecem rebuçados Bola de Neve). Esta sexta, de regresso a portugal, quando a menina hospedeira veio distribuir os jornais eu vez de pedir o Record resolvi pedir o Financial Times. Houve uma série de artigos que me chamou a atenção, uma página inteira sobre a mais recente crise que se abate sobre a economia americana. O subprime lending, prática que se estava a tornar comum, e que tinha proporcionado um certo crescimento no mercado bancário está a entrar em colapso. Os analistas andam agitados, existe receio que possa vir uma recessão atrás da crise. Mas o que é que o termo significa? Nada de mais, trata-se de fazer empréstimos bancários (para habitação ou de qualquer outro tipo) a pessoas cujo índice de esforço não lhes permitiria fazer um empréstimo em condições normais. Claro que como o risco é muito maior, as taxas de juro que se pagam também são maiores... Ora as pessoas que já não tinham dinheiro em primeiro lugar vêm-se à rasca para pagar as prestações, tem toda a lógica... Pelo menos para mim, aparentemente os grandes bancos acharam bom negócio quando se meteram no assunto. Eu não tenho grande jeito para explicar estas coisas, podem saber os detalhes todos num dossier do referido jornal. Incluindo comentários de analistas, grandes gestores, e histórias a puxar para a lagriminha de pessoas que vivem à custa de pensões e acreditaram na ilusão de comprar uma casa a crédito acabando na bancarrota.

Por cá não sei se a prática existe sequer, sei sim que aqueles anúncios da Cofidis a prometer dinheiro rápido, fácil e sem burocracias passam a toda a hora a televisão.

quarta-feira, março 14

Novidades do Festival Alive

Ainda não se sabe grande coisa, na maioria boatos, já ouvi dizer (pelo amigo, do amigo, que contou ao colega) que os bilhetes diários vão ser 50 euros. O site da produtora é um pouco pobre, mas já está lá o anúncio, com as datas, e as bandas confirmadas.

Eu só espero conseguir estar em Lisboa no Passeio Marítimo de Algés no dia 8 de Junho, a tempo de ver os Smashing Pumpkins!

terça-feira, março 13

Without You I'm Nothing

Vítima de um ataque de nostalgia crónica, e sem remédio à vista, o único a fazer é tomar um Placebo. Regresso sazonal a uma das minhas bandas preferidas, aqui acompanhada do senhor David Bowie. Recomenda-se a quem padecer dos mesmos sintomas.

segunda-feira, março 12

Sou Assim Sem Você

Mandaram-me um recado, que tardei a ver, mas que me tocou profundamente. Este vídeo está genial, apesar de muito simples as ilustrações têm vida, e é um exemplo perfeito das possibilidades que o YouTube e outros espaços virtuais vieram oferecer a uma multidão de artistas caseiros. Quanto à música, não há muito a dizer, ilustra algo que sinto precisamente neste momento. Tenho saudades!

Trabalho Novo, Vida Nova

Ainda não tinha estado em Madrid, agora trabalho cá. Temporariamente é certo, isto da consultoria é assim, a minha empresa mandou-me para cá, e agora estou ao serviço duma empresa espanhola. Ainda sou um estranho nesta cidade, sei que vivo no quarto andar e trabalho no terceiro, que de casa ao trabalho é um caminho curtinho a pé. E que vim para trabalhar muito, muito a sério.

Amanhã quem sabe onde estarei. Ainda não sei se me vou fartar rápido das viagens, viver em várias casas, não me sentir em casa em sítio algum. Mas não vou deixar de aproveitar.

sexta-feira, março 9

SXSW 2007

Começa hoje, o South by Southwest 2007. Além de toda a informação e artigos que se podem encontrar na homepage está lá a música para ouvir, vale a pena.

segunda-feira, março 5

Trusted Computing

Está em marcha uma campanha contra os perigos e falsas concepções da iniciativa Trusted Computing, que tem o apoio de alguns dos fornecedores mais importantes da Industria da Informação. Os objectivos iniciais e a declaração de intenções são louváveis, mas esta tecnologia pode ser empregada de muitas formas. A tentação para as grandes empresas tomarem o controlo sobre as decisões dos seus clientes pode ser grande demais... Mais informação em Against TCPA.

quinta-feira, março 1

Casa Nova Vida Nova

Andei desaparecido do mapa, metido em trabalhos. A mudar de casa mais concretamente, não gosto de mudanças, empacotar e classificar a nossa vida toda, dos objectos quotidianos aos transcendentes. Andar com os electrodomésticos e com os móveis às costas. Não gosto de me mexer, sou preguiçoso. Mas as coisas lá se fazem, foi preciso cravar os amigos com mais boa vontade para se tornarem estivadores por um dia e ajudarem a carregar os fardos maiores. O segredo é encarar as coisas bom humor, nesse dia rimos tanto que quase acabava abraçado a um armário no fundo das minhas escadas quando nos deu um ataque de riso e nos escapou. A sorte foi que aquilo se prendeu no corrimão das escadas e não me me levou. Mas o final foi feliz, apesar de ter deixado tudo para o fim (como é meu hábito) lá consegui trasladar todos os meus bens. Foi preciso escolher, mudar de um apartamento para um quarto implica um downsizing nas traquitanas que se vão acumulando. Inevitavelmente, ao revolver absolutamente tudo, encontram-se coisas inesperadas. Coisas esquecidas que já nem nos lembramos que existem, ou existiram em tempos.

E foi assim mesmo a tempo, no último dia do mês que saí de Alfama, vou ter saudades. Mas sinto-me bem no meu quarto na Estefânia, até dá para ir a pé para o trabalho. Além de casa nova, estreada na semana passada, entro de cabeça numa nova carreira. Não sei se me dará tempo a chamar a este quarto a minha casa. Não sei se o vou ocupar muito ou pouco nos próximos tempos. Já tenho destino marcado, e a partida está para breve.