terça-feira, setembro 5

Paradise Now

Este filme foi lançado em 2005, já andou a rodar por aí, ganhando uma série de prémios a nível internacional. Na verdade uma revelação vinda da Palestina, chega agora a Portugal sob o título "O Paraíso, Agora!". O tema é tão actual hoje, como era há um ano, ou há dez. Pelos vistos e com a situação actual no Líbano, ainda se manterá tristemente actual num futuro próximo. A história leva-nos aos territórios ocupados da Palestina, e deixa-nos espreitar o fenómeno social que leva homens de razão a transformarem-se de livre vontade em homens bomba.

Um filme que tem o dom de nos transportar para uma vida dura e cruel. A sobrevivência nos territórios ocupados não é fácil, o curioso é que nos conseguimos identificar com os protagonistas, os seus dramas, as dificuldades que enfrentam no dia a dia. Não nos parecem nem assassinos nem mártires. Muitas das dificuldades que atravessam no dia a dia não nos são estranhas. Ter de aguentar humilhações no trabalho, esticar o dinheiro ao fim do mês, viver com estigmas familiares de algum tipo. As pessoas que nos aparecem são definitivamente humanos, como nós, à primeira vista não parecem terroristas. Não querem aniquilar o mundo ocidental, nem acabar com a civilização. Querem sim liberdade, liberdade para trabalhar, para se deslocar, para ter filhos e criar uma familia.

O filme é muito brusco em alguns aspectos, intencionalmente. Não existe introdução, não há nenhuma genérico, mergulhamos imidiatamente de cabeça na vida dos dois personagens principais. A situação inicial, põe-nos desde logo a simpatizar com eles. A situação em que se envolvem, a notícia de que vão ter o privilégio de ser armas de deus, é um pouco paradoxal. Acontecem inclusive uma série de peripécias trágico-cómicas que nos fazem esboçar sorrisos, chegaram-se a ouvir gargalhadas no cinema. Mas é inegável que o realizador conseguiu transmitir a sensação de sofrimento constante de um povo. Através de uma série de diálogos bem articulados, começamos a entender a falta de saídas, a falta de soluções à vista para um problema secular. Também existe um embate entre a demagogia do violência (que existe tanto do lado árabe como ocidental) e a visão humanista das coisas. À medida que a acção se desenrola e o fim esperado se aproxima, esperamos uma apoteóse final que não chega, afinal somos bruscamente deixados em silêncio com um ecrã em branco. O desenlace é o esperado...

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