sexta-feira, março 31

A administração pública entra em dieta

Foi ontem aprovado em Conselho de Ministros o PRACE (Plano de Reestruturação da Administração Central do Estado) que irá dar origem à mais profunda reforma na administração pública desde 1974. O plano agora aprovado prevê a extinção de 246 organismos públicos. O intento não é apenas reduzir os custos, mas também melhorar a qualidade dos serviços. Centra-se sobretudo ao nível da organização territorial, e na eliminação de anacronismos. Por exemplo, a eliminação do Gabinete do Serviço Cívico dos Objectores de Consciência, anos após a extinção do serviço cívico e do próprio serviço militar obrigatório.

Prevê-se que o plano afecte cerca de 90 mil funcionários, que irão ser reconvertidos para outros serviços. Isto encaixa com outra resolução aprovada, o princípio de uma nova admissão por cada duas saídas. Ainda não sei os detalhes do plano, mas saúdo a coragem deste Governo. Estávamos a precisar disto à muito tempo. Resta saber agora qual vai ser a reacção dos sindicatos, e dos boys que vão ter de arranjar outro tacho.

quinta-feira, março 30

TV Nostalgia

Ontem tive um flashback, e interroguei-me sobre o paradeiro de um dos grandes pioneiros da Televisão em Portugal, Vasco Granja concerteza que é uma das referências no imaginário da minha geração. O homem de óculos e cabelo grisalho apresentava o "Cinema de Animação", e convidava-nos a ver aqueles filmes da Checoslóvaquia, Polónia e etc. Alguns eram estranhissímos e não se percebia nada, a unica coisa inteligível era mesmo o Konec a acabar (konec quer dizer fim em polaco). Lembro-me com especial carinho das aventuras daqueles bonecos em plasticina, que quando acontecia alguma desgraça se desfaziam numa poça disforme para logo a seguir se reconstituirem na sua forma original! Eram tão giros.

Procurei e encontrei algumas coisas, entre elas uma entrevista com este senhor que acho que vale a pena lêr. Descobri que passou por vários ofícios, é um apaixonado por cinema, e esteve várias vezes detido pela Pide. Havia quem não tivesse paciência para os bonecos esquisitos, mas a mensagem que o homem sempre tentou transmitir foi de pedagogia e paz. E o que é que as crianças de hoje em dia vêm na TV? A moda do Dragon Ball já passou, agora é os Morangos pois claro...

vasco granja

quarta-feira, março 29

Junior Gong no Coliseu

Estava com intenção de comprar bilhetes para uma data de concertos que valem a pena e estão quase aí. Atrasei-me para os macacos do ártico e para os reis da conveniência, mas ainda fui a tempo para Damian Marley aka Junior Gong, o filho mais novo de Bob Marley. Que esteve esta segunda no Porto, e ontem aqui em Lisboa para um concerto excelente. Acho que vou começar a correr para a bilheteira assim que souber dos concertos, ando-me a fartar de ficar apeado.

Ontem foi um dia diferente, mas não por causa dum concerto de reggae, mas porque havia jogo da bola. Logo de manhã já dava para notar que havia mais condutores de fim de semana na estrada, a malta levou toda o seu carrito para chegar a horas de ver o benfas contra o barça. Para tentar fugir ao trânsito escapei-me um pouco mais cedo do trabalho, mas não deu. A estrada já estava cheia de energúmenos, armados de cachecol e buzina, enfiados dentro da sua lata à espera da primeira opurtunidade para furar as filas de trênsito e chegar ao importantíssimo acontecimento.

Por isso foi bom quando larguei o carro e me dirigi a pé, acompanhado do meu amigo Tiago, até à zona do Coliseu. Fomos comer um petisco à Casa do Alentejo, e logo aí deu para notar a diferença no ambiente. Os fãs da bola querem gritar, dizer asneiradas, e ai de ti se não mostras o mesmo entusiasmo. Estás sujeito a levar com alguma boca agressiva. Com os amantes da música é diferente, sentas-te ao lado dum gajo que não conheces de lado nenhum e cinco minutos depois já tás em amena cavaqueira. Que é que achaste do não sei quantos? Xiii também foste ver o não sei quê? Eu já não arranjei bilhete. Ah pois mas esse festival é o que tem mais espírito. Malta à maneira.

Notava-se a sala vazia quando entrámos no Coliseu, coube ao Prince Wadada a tarefa de aquecer a malta antes do prato principal. Tarefa que realizou duma maneira muito competente, cruzando ritmos africanos com os clássicos do reggae, pena o DJ ter mandado alguns pregos. As pessoas foram chegando, as notícias do zero a zero também, francamente não estava muito interessado.

Quando a banda principal entrou em palco, o público já estava bem composto, o concerto quase que esgotou, e isso notava-se. Gente por todo o lado de braços no ar. Abriram as hostilidades com uma versão intrumental do Jammin, foi a loucura. Tivemos direito a um speaker que anunciou a chegada do mensageiro de Haile Selassie. Damian mostrou-nos que não ficou parado na sombra do pai, e viajou por vários géneros. Passando pelos clássico como "Could it be Love", mas debitanto sobretudo canções de intervenção muitas vezes num registo mais pesado. Uma autêntica festa, tanta gente junta a abanar o esqueleto, o calor era tanto que o suor já devia escorrer pelas paredes. De cima do palco os nativos de Kingston contagiaram a sua energia a toda a gente. Além do speaker e da banda ainda tivemos direito a um porta-estandarte, que durante todo o concerto andou por lá aos pulos com uma bandeira e não parava nem um instante.

O concerto foi excelente, dou nota máxima. Mas houve uma parte negativa, a babilónia estava infiltrada entro o público, nem toda a gente tinha o tal espiríto que falava a pouco, de amor à música. Houve uns incidentes menos felizes, por exemplo um extintor que foi accionado por algum engraçadinho. Não percebo, podiam ter prestado mais atenção à música, e aos ensinamentos de Jah.

damian marley

segunda-feira, março 27

In the land of the free...

Os Estados Unidos da América foram construídos à custa da emigração, da igualdade de opurtunidades, do comércio livre, and all that stuff. Mas parece que a vontade política quer que isso mude. A administração Bush pretende fazer aprovar legislação que limite a entrada de emigrantes no país, sobretudo pela fronteira Sul com o México. Fala-se até da construção de um muro com o país vizinho.

Este sábado mais de cem mil pessoas manifestaram-se em Los Angeles contra a nova lei, sobretudo hispânicos, mas estavam lá pessoas de todas as raças e credos. Um pouco por todo o país os cidadãos americanos expressam o seu descontentamento com a linha que o executivo está a tomar. Hoje os protestos chegaram a Washington.

Mas não foram só os EUA que resolveram pôr a casa em ordem e meter os emigrantes na rua. O governo canadiano tomou recentemente a decisão de extraditar todos os que não tivessem a papelada em dia. E esta decisão está a afectar muitos tugas que se tinham fixado no Canadá. Com vidas feitas, empregos, até filhos. Muitos a tentar regularizar a sua situação, foi-lhes ordenado que voltassem a Portugal. Pelos vistos está a ficar um bocado de mau ambiente do outro lado do Atlântico.

Crash

O percurso de estreia deste filme passou-me completamente ao lado, só recentemente é que falaram dele (obrigado silvia por me tirares da ignorância), acabando por ser surpresa ao ganhar o Oscar. Como não podia deixar de ser a película voltou às salas, e eu aproveitei e fui ver no grande ecrã. Com um DVD pode-se gozar do conforto do lar, mas não é a mesma coisa. É pena é que algumas pessoas vão para a sala de cinema e se comportem como se estivessem em casa...

Mas passemos ao filme, o leitmotiv é o racismo. O enredo é construído com base numa série de acontecimentos que se vão desenrolando, e envolvendo várias pessoas que não se conhecem mas se cruzam, dando forma à história. Quem achar a minha descrição parecida com o Magnolia, acertou em cheio. Parece que algumas das ideias foram tiradas a decalque, e a maneira como a acção avança é extremamente parecida. Os encontros fortuitos e as casualidades (desgraças e azares sobretudo) dão forma à personagens e à história. A diferença é que aqui vai tudo dar ao racismo.

A ideia que fica do filme é que em Los Angeles, onde se desenrola a acção, toda a gente vive com medo. Medo da diferença, medo dos pretos porque eles são assaltantes, medo dos brancos porque eles discriminam, medo dos polícias porque eles abusam do poder, medo dos chineses e dos mexicanos porque nos vêm tirar o emprego, medo de andar na rua porque se pode levar com uma bala tresmalhada. Às tantas percebe-se que as pessoas até já têm medo dos seus (mesmo credo ou mesma raça), ou seja o problema não está na côr da pele. O problema está na desumanização das grande cidades. No inicio do filme, uma das personagens fala disso mesmo, vivemos atrás de paredes de metal e redomas de vidro, perdemos o sentido do toque, perdemos os outros.

Creio que esse é o grande mensagem que este filme pode deixar. Quando o dia nos corre mal, ou estamos chateados, ou alguem no trânsito nos corta o caminho, a tentação é descarregar no objecto mais próximo. No caso do trânsito mandar a boca ao condutor da frente "ò meu granda filha da puta, tira lá essa merda daí". A solução mais fácil é chamar nomes e desrespeitar os outros, lixá-los quando houver opurtunidade. Se eu não tivesse emprego tinha a tentação de culpar alguém, se eu não tivesse que comer sentia-me com justificação para descarregar em alguém. A questão é que isso não é solução nenhuma, não leva a lado algum. Antes de exigir dos outros temos de exigir de nós próprios. Não sei se o Oscar foi merecido, mas um bom filme, que vale a pena ver.

Crash

sexta-feira, março 24

V for Vendetta (o filme)

As adaptações cinematográficas de Bandas Desenhadas estão na moda ultimamente, nos últimos anos houve várias. A maioria delas foi mázita, pouca fidelidade à história original e sobretudo ao verdadeiro espírito do comic geraram produtos de baixa qualidade. Felizmente a tendência está-se a inverter nos ultimos tempos, sintoma disso são o excelente Sin City do ano passado e este filme que vou falar. Sou um fã de BD, de vários géneros, desde o infantil até aos temas mais adultos (e não, não estou a falar de Hentai). E realmente há obras que merecem ter mais exposição porque abordam temas extremamente relevantes.

V for Vendetta não segue à risca o argumento da BD original, digamos que traz a história para o presente e actualiza algumas da referências. Os temas chave estão lá. A história decorre num futuro próximo, numa realidade alternativa (mas terrivelmente possível). O mundo está mergulhado na guerra e no caos, a grande potência hegemónica da actualidade os EUA, estão em guerra civil. A acção decorre num Reino Unido governado por um regime totalitário. Não quero estragar o encanto do filme, por isso não vou falar do enredo que coloca uma ditadura à frente dum país com uma tradição democrática tão grande. Mas o ditador de serviço usa as ferramentas típicas de qualquer governo totalitário, o medo, a repressão, a censura, a perseguição para manter sobre controlo a sociedade inglesa.

O nosso personagem principal, simplesmente V, é um terrorista. Embora tenha sido um pouco suavizada no filme, a personagem é extremamente ambígua, culto mas extremamente violento, terrorista na verdadeira acepção da palavra, que rebenta com edifícios e mata pessoas. Ficamos sem perceber se é movido pela vingança ou pelo idealismo. Ficam muitas dúvidas morais, será que o fins justificam os meios? O próprio V duvida em certa altura da validade das suas acções, mas a verdade é que ele se torna um símbolo de libertação. Na conjunctura internacional actual este filme não podia ser mais pertinente.

Produzido pelos irmãos Wachowski, os mesmo do Matrix, que escreveram o argumento para este filme antes de imaginarem as aventuras de Neo. Notam-se por isso alguns paralelos, nas cenas de pancadaria por exemplo, que foram muito bem sacadas. A Natalie Portman até faz bom papel, embora a personagem que encarna tenha sido bastante alterada em relação à original da BD. Vão ver este filme, e prestem muita atenção. Algumas das suas fantasias estão perigosamente perto da realidade.

V for Vendetta

quarta-feira, março 22

Indie Lisboa 2006


Está quase a começar mais uma edição do Festival de Cinema independente de Lisboa. Entre 20 a 30 de Abril os filmes e curtas metragens estarão em exibição no Fórum Lisboa e nos Cinemas King e Londres. Na competição oficial só está presente um filme português, "Um pouco mais pequeno que o Indiana", mas a representação lusa cresceu e está muito mais forte este ano. Mais detalhes aqui.

A (falta de) Justiça

Embora andasse a evita-lo, o nosso Sócrates acabou por se cruzar com a autarca mais polémica do país quando se deslocou a Cabeceiras de Basto para inaugurar 10 quilómetros de auto-estrada entre Calvo, em Guimarães, e Felgueiras. Consta que os cumprimentos foram um bocado frios.

Fátima Felgueiras podia ser alvo de um case study sobre a justiça portuguesa. Realmente não se entende que é que esta senhora faz à frente duma Câmara Municipal depois dos escândalos que protagonizou. Deixo aqui uma opinião publicada hoje no Jornal de Notícias por Manuel A. Pina em que vale a pena reflectir:

Da justiça

Lenta e pesadona, presa de movimentos pelos excessos garantísticos do Processo, as possibilidades infindáveis de recurso, de arguição de nulidades, impedimentos, reclamações e incidentes de toda a ordem e a propósito de tudo e de nada logo desde a fase de instrução, e depois por aí adiante até ao julgamento (nos casos em que, por milagre, os processos chegam a julgamento), a Justiça, particularmente a Justiça penal, é facilmente "levada ao engano" por arguidos ágeis de imaginação e de escrúpulos e com meios para pagar a advogados que espiolhem o CPP à cata de empecilhos capazes de fazer tropeçar o bicho. "Chapeau!" nesta matéria para Fátima Felgueiras, que se tem revelado a mais exímia das toureiras. O processo em que é acusada de nada menos que 23 crimes dura há um tempo interminável e ainda não passou da instrução, e o seu advogado acaba de anunciar três-novos-recursos-três! Depois da admirável "chicuelina" com que se furtou à prisão preventiva, fugindo para o Brasil e regressando em ombros ao local do crime, Fátima Felgueiras informou agora o tribunal que lhe ordenara que entregasse o passaporte brasileiro que o deixou? no Brasil. Por algum motivo se diz que a Justiça é cega, pois que não vê o seu próprio descrédito.

terça-feira, março 21

Árvores

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
--- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!

(Florbela Espanca, Charneca em Flor)

van gogh - the olive grove

Dia Mundial da Poesia

Dia mundial disto, dia internacional daquilo... Hoje é o primeiro dia da Primavera no hemisfério Norte, dia da Árvore. Por esse país todo deve haver miúdos e professores a plantar árvores, sempre associei a efeméride a essa recordação de infância. Uma data muito meritória, pena que seja só mesmo a pequenada a lembrar-se dela!

Também se celebra hoje o dia Mundial da Poesia, esta é que ninguém devia mesmo saber. A Casa Fernando Pessoa organiza algumas coisas aqui em Lisboa, por esse país fora há mais algumas iniciativas isoladas, que o Ministério da Cultura não tem guita para fazer nada em grande. Mas hoje já temos uma boa desculpa para abrir, pelo menos folhear ou dar uma vista de olhos num livro, de preferência de poesia. Um muito bom dia também para dar um passeio na rua Augusta, e passar na Feira do Livro Manuseado, onde há livros baratíssimos (a menos de um euro).

quinta-feira, março 16

Eles querem é a guita

A Associação Fonográfica Portuguesa (AFP) lançou agora uma campanha contra a pirataria digital, prometem começar a perseguir a malta que faz downloads ilegais. O principal vector de actuação aparentemente são as acções judiciais contra os infractores. Não consegui encontrar nenhuma informação útil nesse campo, mas estou cheio de curiosidade sobre a forma como os supostos infractores são detectados, e que tipo de prova vai ser apresentado perante os tribunais para suportar estas queixas.

Como é normal as instituições em Portugal andam a reboque do que se faz lá fora. Ao fim de algum tempo acaba-se por copiar o exemplo externo, seja ele bom ou mau. A RIIA ficou famosa desde que começou a meter processos a torto e a direito à uns anitos. O suposto objectivo é proteger os artistas dos infames piratas, os ladrões que andam a tirar o pão da boca aos artitas. A venda de discos baixou, e só pode ser culpa da pirataria. Isto pelo menos é a história que é vendida cá para fora, mas que está a acontecer na realidade? A venda de cd's baixou, mas as lojas virtuais como o iTunes estão a prosperar. Há quem já tenha prognosticado a morte do cd, e o que parece é que as editoras estão desesperadamente a defender o seu papel como intermediários (e os seus lucros) na indústria musical.

Mas também há o outro lado da moeda, num país como os Estados Unidos que a justiça até funciona, as pessoas rotuladas como piratas podem responder. Muitos dos casos interpostos pelas editoras não deram em nada, simplesmente não conseguiram apresentar provas cabais para o acto de delito. Um dos ultimos desenvolvimentos foi a apresentação dum processo contra várias editoras acusando-as de manipulaçao de preços.

Vamos examinar os factos, um cd não custa praticamente nada a produzir, mas no entanto são bastante caros. E mais, curiosamente parece que todas as editoras utilizam as mesmas tabelas de preços. Não sei qual é a percentagem do preço do disco que chega ao artista, mas acredito que seja pequeno. Outra coisa a que a editoras nos conseguiram habituar foi a comprar coisas que já são nossas. Passo a explicar, dou um exemplo meu, mas creio que esta situação deve ser familiar a muita gente. Sou fã dos Nirvana, tive o "Nevermind" em vínil algum tempo depois de sair. A malta quando é jovem não tem cuidado com as coisas e o vínil é frágil. Quando tive leitor de cd's lá fui comprar de novo um dos meus albuns preferidos. A verdade é que hoje em dia já não sei onde anda o cd, o mais provável é ter emprestado e nunca mais o ter visto. Que é que tenho de fazer se quiser ouvi-lo de novo? Comprar de novo o cd para engordar os senhores da editoras, claro... Mas eu não vou nisso, já tenho os mp3 piratas, e acho que tenho todo o direito para os ouvir.

terça-feira, março 14

Know Thyself

Se conheces o inimigo e a ti próprio, não necessitas temer o resultado de mil batalhas. Se te conheces a ti mas não ao inimigo, por cada vitória sofrerás uma derrota. Se não conheces nem o inimigo nem a ti, sucumbirás em cada batalha.

Sun Tzu (The Art of War)

guerreiro terracota

Mais sobre o Super Bock 2006

Parece que a edição deste ano já está mais ou menos alinhavada, já não devem surgir muitas surpresas. Como já é habitual vamos ter de ir dar uma voltinha até ao Parque do Tejo, mas houve uma alteração em relação a anos recentes no formato. Já não vai ser um "fim de semana grande" preenchido com música, o Festival dividiu-se em duas partes.

Eu já tinha comentado alguns grupos, neste momento já estão confirmados: Moonspell, Within Temptation, Korn, Alice In Chains, Deftones, Placebo e Tool para os dias 25 e 26 de Maio. Para a segunda prestação, dias 7 e 8 de Junho, vamos poder ouvir: Franz Ferdinand, Keane, dEUS, Editors, Boss AC, Patrice e Pharrell Williams.

Eu falhei os concertos em Portugal dos Franz Ferdinand e dos dEUS, por isso vou-me poder desforrar agora! Tenho curiosidade de ver a performance a solo do ex-Nerd Pharrel Williams, gostei bastante do concerto que o grupo nos ofereceu, também no Super Bock. Destaca-se claro também a aposta no Hip-Hop tuga, que ultimamente está a saltar para os escaparates ocupando o lugar que merece.

O preço de um passe para os dias todos é 80 brasas, também é possível comprar por 50 só para um dos fins de semana (chamaram-lhes Act 1 e Act 2). Em termos de grupos estou muito contente, mas creio que preferia o formato anterior. Esta estratégia de dividir as actuações parece que tem a ver com ocorrência na mesma altura do Rock in Rio. São dois festivais bastante diferentes, e com público diferente também creio eu, acho que não se justificava.

franz ferdinand

segunda-feira, março 13

On Air

Já que hoje comecei a fazer recomendações aos melómanos, vou aproveitar para fazer pouco de publicidade à minha rádio preferida. Acho que a rádio não é só música, é notícias, é conversa, no essencial são pessoas que nos fazem companhia de vez em quando. Em tempos idos fui um fã incondicional da Voxx, partia-me a rir com os programas deles, há por aí alguem que tenha gravado todas a edições do "Galinhas no Horizonte"? Passavam boa música, e esforçavam-se por mostrar as coisas boas que iam aparecendo. Tudo à margem do mainstream e das playlist's. Em dada altura tinham um slogan excelente, em que aquele gajo engraçadíssimo com sotaque à bimbo anunciava "a melhor rádio cá do prédio", a piada é que eles partilhavam o edifício com a rádio Comercial, a ironia a Comercial (que era isso mesmo comercial) sobreviveu, a Voxx acabou por definhar.

Hoje em dia sou um ouvinte da Radar, também se assumiram como representantes dum panorama alternativo, que não vive segundo as regras impostas pelas editoras. Partilham com a Antena3 a vontade de divulgar a o que por cá se faz. Além disso fazem divulgação cultural, e têm programas (e pessoas) bastante bons. Acho que a inclusão de pequenos espaços temáticos como o "Camaleon de Imitacion" ou "A minha grafonola" acrescentou ainda mais originalidade. A malta da Radar acompanha-me em muitas viagens de carro, em casa ou até no trabalho.

Aproveito para deixar o link para o blog do Nuno Galopim o Sound + Vision, o tema é a música (claro) e o cinema. Também digno de nota, outro que descobri recentemente, Posso Ouvir Um Disco?

on air

South by Southwest

O Festival de Música South by Southwest (SXSW) irá celebrar este ano a sua vigésima edição, de 15 a 20 de Março. Estão convidados alguns artistas conhecidos como o Neil Young, Morrisey, Belle & Sebastian, que irão estar presentes para concertos e conferências. Antes da música existe também um evento sobre cinema que já começou, dia 10 e prolonga-se até amanhã.

O mote deste festival é divulgar o que de mais novo se faz em termos de música, cinema, e artes interactivas. Além da malta conhecida, quem fôr ao festival irá ter opurtunidade de vêr centenas de bandas com pouco ou nenhum relêvo. O evento parece muito interessante, bem que me apetecia dar uma volta até Austin no Texas para assistir. Pena que tenha de ficar para outra vez, a boa notícia é que dando uma olhadela na agenda do site oficial pode-se ouvir as bandas participantes (mais de 900) em mp3. Ou até mesmo descarregar tudo para o vosso iPod.

sxsw

quarta-feira, março 8

Capitalist Piglet

Quando o Islão se mostrou escandalizado com a publicação duma paródia à imagem de Maomé, o mundo Ocidental veio em defesa da liberdade de expressão. Por principio os governos ocidentais e democráticos não deixam (ou não deveriam deixar) que qualquer tipo de preconceito religioso interfira no trabalho de artistas e jornalistas. Esta posição foi deixada clara por muito boa gente, e eu concordo plenamente com ela.

Mas como é costume, em casa de ferreiro, espeto de pau. Que é que aconteceria se alguem publicasse um cartoon que ofendesse a religião católica? Quais seriam a reacções? Não é preciso pôrmo-nos a especular, porque aconteceu. E as consequências foram as esperadas claro.

The Sheaf é o jornal da Universidade de Saskatchewan, no Canadá. Nele foi publicado o boneco que vos apresento a seguir. O resultado foi muita polémica, a demissão do editor do jornal, e várias declarações da direcção a demarcar-se da responsabilidade pela inclusão desta pequena tira cómica. A piada é um bocado sêca, mas não era para tanto.

capitalist piglet

Truque Tóxico

Volto ao quarto de pensão, fumo até ao vómito
isto é : drogo-me.....
....abro a caixa de papelão, aparentemente cheia de sonhos
escolho um, fumo mais erva, nenhum sonho me serve,
abro a caixa dos pesadelos.....
o silencio ocupa-me e da caixa libertam-se corpos
cores violentas, olhares cúbicos, pássaros filiformes
cadeiras agressivas
limo as arestas fibrosas dos objectos
arrumo-os pelo quarto, de preferencia nos cantos
dou-lhes novos nomes, novas funções, suspiro extenuado
embora a sonolenta tarefa não tenha sido demorada
....outra caixa, azulada, abro-a
entro nela e fecho-a, o escuro solidifica-se na boca
tenho medo durante a noite
alguém se lembrou de atirar fora a caixa......
....luzes, umbigos obscurecidos pelas etiquetas
dos pequenos produtos de consumo, tóxicos
FRAGIL - MANTER ESTE LADO PARA CIMA
NÃO INCLINAR
TIME TO BUY ANOTHER PACKET
O quarto está completamente mobilado de corpos
explodem caixas, o sangue alastra
estampa-se nas paredes sujas de calendários e cromos
de pin-ups obscenas
....fendas de bolor no espelho
o reflexo do corpo arde como uma decalcomania
TIME TO BUY ANOTHER PACKET
todos dormem dentro de caixas, uma serpente flutua
falamos baixinho
não se ouvem mais barulhos de cidade
o sono e o cansaço subiram-me á boca
....movemo-nos lentamente para fora de nossos corpos
e devastamos, devastamos.....


Al Berto

segunda-feira, março 6

O "acordo" com a Microsoft

Aquando da vinda do Bill Gates a Portugal teci aqui alguns comentários sobre o badalado "Choque Tecnológico". Na Grande Loja do Queijo Limiano também deram a sua opinião. Apesar de apenas agora ter encontrado o comentário, não posso deixar de chamar a atenção para ele. Bastante contundente, mete realmente o dedo na ferida.

sexta-feira, março 3

Placebo de volta

Está quase aí a chegar mais Super Bock Super Rock, e já se fala das bandas que vão fazer o cartaz. Segundo o que encontrei confirmados estão os Placebo, Korn e Within Temptation. Há rumores sobre a vinda dos Tool e Deftones. Agrada-me bastante o menu até agora! O Meds não para de rodar no meu iPod, só os Placebo já são razão suficiente para eu lá estar com toda a certeza.

Eu já não digo nada

the worst part of censorshiptomaram posse os cinco membros da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), um novo orgão que vem substituir a Alta Autoridade para a Comunicação Social, e tem competências alargadas à internet, telemóveis e publicidade.

Levantou-se alguma celeuma junto dos jornalistas devido à expansão das responsabilidades, e dos poderes, do orgão. O ministro dos Assuntos Parlamentares lamenta a confusão feita sobre o assunto, mas assegurou que não há nenhum motivo para nos preocuparmos.

Achei curioso surgir esta polémica numa altura em que o Tribunal da Relação de Lisboa autorizou o acesso aos computadores dos jornalistas que denunciaram o caso do Envelope 9. Segundo a notícia, o facto de terem sido os jornalistas a descodificar os números transforma-os, para o Ministério Público, nos autores do crime, o que é mais grave do que os segredos que pretendem guardar. Justifica-se assim a quebra do sigilo profissional.

quinta-feira, março 2

Dead Souls

Someone take these dreams away,
That point me to another day,
A duel of personalities,
That stretch all true realities.

That keep calling me,
They keep calling me,
Keep on calling me,
They keep calling me.

Where figures from the past stand tall,
And mocking voices ring the halls.
Imperialistic house of prayer,
Conquistadors who took their share.

That keep calling me,
They keep calling me,
Keep on calling me,
They keep calling me...



A canção é original dos Joy Division, a careta é a minha.

quarta-feira, março 1

Mudar a Caraça

A origem do Carnaval está perdida na noite dos tempos, é anterior ainda ao advento do Cristianismo. Os romanos celebravam a Saturnália e as Bacanais que estão relacionadas, mas a raíz da festa é provavelmente pagã. Ligada à passagem de estações, a celebração da Primavera, festa grande antes da altura das sementeiras. Caracterizada pela liberdade de expressão e movimento.

Em Portugal os bailes de máscaras e os desfiles com carros alegóricos estão em tempos recentes a ser substituídos por outros costumes, andamos a copiar a folia brasileira. Hoje em dia se vamos a uma festa temos de papar com a "cabeleira do zézé", o "charlie brown" e afins. Mas menos mal este ano, um costume que eu considero profundamente estúpido, alugar as estrelas das telenovelas brasileiras está sair de moda. Agora alugam-se os ídolos dos Morangos com Açucar ou do último Reality Show...

Nós por cá temos muitas e boas tradições, espero que se conservem. O carnaval de Torres Vedras é promovido como o único que mantem a fidelidade ao Entrudo português, com as caricaturas e críticas sociais. Confesso que nunca lá fui mas tenho curiosidade. Outra tradição bem pitoresca é as dos Caretos na aldeia de Podence, em que os moços vêm à rua disfarçados de Diabo.

No Alentejo onde cresci também tinhamos outros hábitos que se já estão a perder um bocado, felizmente ou infelizmente celebrávamos a época de outra maneira. Lembro-me de festejar o dia dos compadres e o dia das comadres. Lembro-me de andar a enfarinhar, para quem não saiba o que é, andar a correr atrás das raparigas para lhes untar a frolha com farinha ou atirar-lhes ovos podres. Elas respondiam à letra claro, tudo a brincar, no Carnaval ninguém leva a mal. Outro costume, o das bombas e bombinhas fez bem em acabar.

Para mim, tradição indispensável é disfarçar-me. Mudar a caraça que uso no dia-a-dia, e encarnar alguém diferente. Neste Carnaval visitaram-me algumas sombras, além disso tive de trabalhar segunda e terça, não deu para aproveitar grande coisa. Nem sabia de que é que me havia de disfarçar, não tive tempo para preparativos. Mas chegada a altura foi muito fácil escolher o disfarce, para exorcisar os nossos fantasmas nada melhor que personificar um, e dos mauzões! Quando tiver as fotos eu mostro.

careto